quinta-feira, 19 de junho de 2008

Hitchcock Apresenta: Memória dos Campos


(um telefone toca, um telefone toca, um telefone toca)


"Pois não?"

"Alô, é o senhor Hitchcock?"

"Exatamente, o que deseja?"

"Aqui quem fala é o Sidney..."

"Claro! Como está, caro colega?"

"Então, vou bem, só liguei por que gostaria de propor uma empreitada cinematográfica"


(todos diálogos traduzidos do inglês puramente britânico, respeitando o sotaque e suas respectivas inflexões)


A Segunda Guerra estava para terminar. A Alemanha era invadida de todos os lados possíveis pelas frentes aliadas: estadunidenses, britânicos e soviéticos encontraram os campos de concentração no final do inverno de 1945. Os soldados e oficiais presentes não esperavam encontrar um ambiente pior àquela guerra que travavam, não havia nada pior que uma guerra total, eles não esperavam encontrar algo pior, eles se enganaram.


Pessoas magras, esqueléticas, deformadas pelas torturas impostas pelos nazistas. A degradação presente era tamanha que aqueles, os que sobreviveram, não conseguiam até comer: a subnutrição aguda pode fazer com que qualquer proteína ingerida no organismo possa ser fatal. Não era só isso: não sentiam cheiro, mal caminham e agradeciam a qualquer deus pessoal a presença dos militares.


As nações ficaram preocupadas, pois a situação era pior àquela esperada. Eles poderiam ter um problema no futuro: como comprovar que todo aquela violência e atrocidades perpetuadas pelos nazistas realmente foi verdade? Mais, como comprovar que existiu um absurdo com aquela dimensão feito por seres humanos?


Produzir um filme foi a solução. Com as cenas coletadas de todas as frentes aliadas, resolveram, em Londres, deixar o documentário nas mãos de Sidney Bernstein, o diretor de propaganda do exército britânico. Ele percebeu no decorrer dos recibementos das cenas filmadas que não poderia dar conta sozinho daquela empreitada. Resolveu chamar um velho amigo: Alfred Hitchcock.


Juntos, editaram e finalizaram aquele projeto que viria a se chamar Memória dos Campos: documentário sobre o horror dos campos de concentração feitos somente de imagens reais. A preocupação era necessária, como também justificada, pois havia a necessidade de denuciar os horrores daquela conflito global; inclusive, muitos planos gerais foram inseridos, mostrando centenas de corpos empilhados, para desmistificar qualquer tentativa de desmintir e ridicularizar o projeto.


Infelizmente o filme nunca foi finalizado, o mito do "documetário inacabado de Hitchcock" fez história. Já era 1985, a rede PBS(da qual nunca tinha ouvido falar) comprou a única fita restante daquela empreitada. Agora está disponível na internet, para todos nós.



2 comentários:

  1. Você obviamente nunca ouviu falar do Nazi Concentration Camps, documentário do George Stevens (diretor do Assim Caminha a Humanidade) que chocou o mundo todo ao mostrar a libertação de campos de concentrações. O próprio Stevens ficou tão abalado que fez apenas filmes reflexivos e sombrios depois dessa experiência. Esse sim foi um documentário REALMENTE importante, ao contrário dessa experiência infrutífera do amiguinho do Hitchcock. E aquele diálogo no começo do texto foi de amargar! Era pra ser engraçado?

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