domingo, 28 de setembro de 2008

Ainda os homens do amanhã

Sábado, 14 de fevereiro de 2047. 13h26. Eu estou em apuros, mamãe. Acabei de chegar em Buenos Aires e não me lembro onde mora o tio Val... Ô, sim, lembrei. Tá bem. Te ligo quando chegar lá. Beijo.

14h41. Oi, mamãezinha, cheguei. Estou bem. Tio Val também. A nova cabeça de Gustav Mahler que colocaram nele, apesar do ar severo e das novas mas esperadas fixações com a morte, lhe ficou muito bem. Prefiro-o assim, realmente. A senhora tem de conferir. Tia Marta é que não se conforma; discutem o dia todo porque a cabeça cheira esquisito, e quando brigam, ela começa a gritar “Sinfonia dos Mil, Sinfonia dos Mil!”, e ele quer morrer.

Maman aos 14.

Segunda, 16 de fevereiro de 2047. 20h51. Acabei de voltar do Museu. Ouvimos algumas gravações do que era música há 30, 40 anos. Um horror. Um dos fragmentos, intitulado "Bildam n° 14", devo confessar que era chatíssimo, tinha quatro minutos que pareciam se estender por horas. Tá, o interesse arqueológico, pff. Agora entendo o ditado de que “civilização e energia elétrica são incompatíveis”. Por Diomedes, pensar que já fizeram música com computador. Computador, mamãe! Graças ao bom Calímaco, abandonou-se a guitarra elétrica, a bateria eletrônica e outras obscenidades mais.

Quinta, 19 de fevereiro de 2047. 17h03. Desculpe a demora, é que estive envolvido com a caça a coalas, que se tornaram uma praga nas pradarias. Ah, a senhora sempre me fala de amor. Estou vendo uma moça chamada Helena, muito dócil e prendada. Acho que a arrematarei hoje à noite. Pediram $15 por ela, mas eu não tinha trocado comigo na hora. Mandei reservar. Me deseje sorte, maman.

Me (third from the left) and my mates at... rsrsrsrs Love u guys!

Sábado, 21 de fevereiro de 2047. 11h23. Ô, mamãe querida, estou correndo hoje. Mais tarde, tio Val – que agora insiste em falar alemão, vá bem – vai reger um coro de setecentas crianças carentes entre 21 e 37 anos, todas sem as presas. Lindas. Acredita que ainda não me acostumei com as cebolas daqui, que todos dizem ser as melhores. Ainda me sangra o nariz, mas dizem que é normal. Ah, a tal Helena era uma bela de uma enrascada. Tinha os olhos castanhos, mamãe. Castanhos! Não tinha reparado na hora. Por sorte a senhora que me atendeu era honesta e gentil, e me mostrou devidamente todas as características da moça. Claro, certamente previa devolução futura, sob protestos e reclamações, de que eu não a pouparia. Enfim, ainda espero o amor...

E todo o mundo tem o seu own private dâimon.

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