sábado, 27 de setembro de 2008

Sweet about me, nothing sweet about me

Quando parece que tudo vai dar errado, começo a pensar na beleza de Claudia Abreu, que é brasileira e atriz, duas coisas que são absolutamente terríveis justamente por poderem ter sido tão boas; provavelmente num outro mundo. E a participação dela no pior e o fato dela continuar sendo tão bonita, meu, acho que sou um romântico.

Fiz um trato com a Martha Suplicy que era o seguinte: se ela não mostrasse a cara durante a campanha ou mesmo depois, votava nela, apesar de tudo. Porque no começo eu estava com essa esperança de que ela não apareceria nenhuma vez. Mas ela descumpriu o nosso trato, desfilando com o surrado tailleur petista e falando que o fato de ser mulher gera preconceito, daí que, se ela se divorcia, então é vagabunda. E eu fiquei sensibilizado nessa hora. Ah, a sociedade paulistana: conservadora e machista. Malufista. E não perde um programa da Hebe.

Ficar sensibilizado por causa de um político – um que é por acaso uma mulher de garra, que diz o que pensa – é como ter pena do Dunga, porque, coitado, o povo brasileiro cobra muito dele. O gênio peripatético do leitor certamente não ignorará como sofismamos no período anterior.

Ser autêntico, dizer o que se pensa. A inversão dos valores. Nietzsche, atacando Sócrates, reclamava que a dialética é uma grosseria; que era indigno argumentar. Mas era ateu. E era também indigno ser ateu. Como não tomar banho ou falar de boca cheia. Richard Dawkins não é o capeta; só alguém que arrota à mesa.

Quando tudo fica feio e ruim, aí tudo fica bonito e legal.

Claudia Abreu civiliza o estilo, pra eu, falando de eleições, envilecê-lo. Sócrates, após ser condenado à morte pelos quinhentos, assim finaliza seu discurso: “Mas agora é hora de partirmos: eu, para morrer; e vocês, para viver. Quem de nós vai para melhor é a todos inaparente, mas não ao deus”. Pois eu queria que nos importasse ser políticos como o era Sócrates: sendo teóricos e, portanto, fazendo da lucidez, que costuma quase sempre vir da reflexão, nossa prática em relação ao cachorro correndo atrás do próprio rabo, a.k.a. mundo das pessoas ser humanas. Porque ser lúcido é olhar o cachorro, e só assim, o que não é um truísmo, porque eu sei que tem muita gente querendo ser o cachorro. (E a forma de dizê-lo é truncada porque precisa.)

Mas também sei que tem gente que defende lucidez no cachorro. Relativistas, é claro. Mas se depois de ouvir os últimos quartetos de Beethoven, ainda continuo achando felicidade em ouvir Gabriella Cilmi cantando “Sweet about me”, como não ser um relativista? Como não justificar posições contraditórias? Mas é culpa da televisão, e de Bergman em DVD. A gente acaba com sensibilidade artística de comercial de desodorante.

Bergman em DVD: o cúmulo da civilização. Em todos os sentidos. Entenda como quiser.

Mas conservadores é que acham bom ser lúcido. Eu acho.

Essa Gabriella Cilmi, ela é um pão. (Isso de dizer que alguém é um pão: só cabe pra quando o dito pão é homem?) E a maquiagem e a produção do clipe induzem o pobre marmanjo à pedofilia sem culpa, disfarçando ainda mais os 16 anos da menina, esses 16 anos de hoje em dia, na base de muita proteína na alimentação. O que faria Sócrates?

Também os homens do amanhã dirão que não sabiam?

E a velha questão se ainda é pedofilia se tem 16. Os que dizem “já” – “se tem 16” – se entregam nessa hora. E como os lamentamos, tsc, tsc, tsc. Mas são os homens do amanhã que hão de decidi-lo, se é, a partir de critérios o mais objetivos possível.

Mas e você, caro leitor, que tem 20 e poucos, poucos... e namora uma colegial, que pensa? Nabokov era Humbert Humbert, como Flaubert Madame Bovary? Ou Lolita? Aliás, Flaubert era Madame Bovary?

Nenhum comentário:

Postar um comentário