segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Preenchendo o perfil

Percebi que eu não dou a mínima. Assim, absolutamente, em geral. A totalidade da indiferença ou indiferença à totalidade. Radicalismos assim pedem explicação. Bom. Estava lendo uns blogs; é sempre assim, a pessoa está bem, mas de repente entra em crise porque foi à academia, ou porque estava lendo uns blogs, ou porque tomou um sorvete de casquinha. Bom, lendo uns blogs, notei como as pessoas se interessam pelas coisas. Poxa, as pessoas se interessam mesmo, e muito, pelas coisas. Escrevem posts enormes sobre notas de escândalos com parlamentares. Linkam matérias de revistas científicas norte-americanas sobre como os gays estão tentando dominar o mundo (verdade). Analisam, em profundidade, cretinices em textos postados por outros blogueiros. Divulgam bandas obscuras, com faixa a faixa de toda a discografia, que você nem podia imaginar que já vem desde a década de 1970. Enfim, é “de uma grande efervescência cultural essa blogosfera”, pra arremedar estilo novela das oito.

Mas eu não dou a mínima. Não tenho vontade nem de escrever sobre filmes, que eu vejo só por prazer. Sem profissionalismo nem disposição maníaca. Escrever sobre filmes me dá um bode terrível justamente porque milhões de pessoas estão fazendo isso com muito mais vontade e instinto assassino. Se empenhando mesmo em analisar e fundamentar suas impressões sobre um filme. Ou seja, fazendo a coisa com aquela seriedade que te faz levantar da mesa e dizer que está ficando tarde.

Na faculdade o pessoal está aprendendo justamente isso, né? Esse instinto assassino que também chamam de paixão pela vida, mas que eu no fundo só acho uma obrigação autoimposta de ser intrometido porque disseram que isso é sinal de inteligência. E porque disso depende seu emprego. Daí o sujeito ler muito pouco, e com mínima retenção de conteúdo, mas ter um milhão de referências, como verbetes que ele saca numa conversa, só por uma muito contemporânea compulsão por citar. Você quer conversar com um ser humano, mas ele só tem nomes, e não ideias próprias, coisas que geralmente não têm muito glamour, porque ainda não foram devidamente lapidadas. Ou seja, não são bonitas de se dizer. É preferível dizer alguma platitude pomposa disponível no Wikipedia.

A ideia é que você lê Dostoievski e assiste filmes do Bergman porque assim que entrou na faculdade descobriu que é isso que pessoas do seu curso fazem. Você está preenchendo lacunas de seu perfil. Você está preenchendo um perfil. Nossa. No fundo, gosta de literatura beat, que é o mesmo que não gostar de literatura, e de filmes como Magnolia. Filmes sensíveis assim. Assuma-se então. A verdade é que fomos criados diante da televisão, certo? Isso faz de toda esta geração uma farsa no que diz respeito à arte. Mas isso é justificar, o que eu não quero. Vou pular isso então.

Camarada Moderado, Rogério L. e Paulo Nishihara com umas meninas esquisitas do tempo do colégio.

Gente como a gente não deveria fazer faculdade. Deveria vender coco na praia, entardecer de calção, essas coisas que não forçam muito e que constituem a vida boa. Certas vocações não se expressam em carreiras profissionais. Mas disseram que a gente tem que ser diplomado. Então...

Mas naturalmente são os blogs bons, com ideias e pensamento autônomo, bem escritos e divertidos que me fazem me sentir mal por ser tão desinteressado. Inclusive as pessoas interessantes têm mais interesse que eu. Uma pista? A maioria é católica. Precisa então defender o papa. O nível geral de estupidez do mundo se mede pela quantidade de ataques ao papa, ou mesmo pelo fato de atacarem o papa. É o common sense da intelectualidade: pra ser intelectual, você tem que “apreciar” Godard (até você sabe que Godard no máximo se aprecia; Godard e umas tantas outras coisas foram feitas não para serem amadas, mas apreciadas) e ser contra o papa. Ser contra o papa é o tipo de ideia tão idiota que mesmo a forma de enunciá-la te constrange a não o fazer. Afinal, o que é que você é? Baygon? Contra moscas e baratas. Bom lembrar que gente como a Madonna protesta contra o papa. De que vale ter um QI de 150 quando você o usa como a Madonna? Protestar contra o papa, pff.

Mas essa é a minha tese. Ter de estar contra um mundo contra o papa e de certo modo defendê-lo de seus terríveis detratores (estou pensando na Madonna; quantos jovens católicos apostataram por causa dela? Certamente toda uma geração.) é que torna as pessoas interessadas. Mas eu não sou católico nem a favor do papa. Tem gente que é a favor do papa, que é tão idiota quanto... Nesse nível de reflexão e inteligência, o melhor é ser o papa. Ele tem curso superior e fala várias línguas.

E os não católicos? Os protestantes sem medo no coração, como eu, e os designers, e as cheerleaders que leem Gatsby às escondidas no quarto depois da meia-noite, e as menininhas mordazes em geral que vão se casar com um cara bem goiaba, com cara de pochette e cérebro de pudim? E gente que ouve Rossini da única maneira que dá pra ouvir Rossini – sorrindo? Estes não terão interesses nem a segurança de se enquadrarem, ao mesmo tempo sem serem desajustados, com o privilégio boboca de ser um desajustado, de ser incompreendido, snif, snif.

A coisa mais legal em designers, pelo menos os que eu conheço na base da idealização, é não terem o compromisso de ser intelectualizados. São como eu, querem entreter. Um dia você desencanta, disse a tia Judite. Nem quero, tia.

Nham, será que ele tem mesmo uma tia chamada Judite?

3 comentários:

  1. OOOOOOOOOi ihihhihi hiiiiiiiihihihihh hifihihiotih dihfhihuthgfhdffggffffffff irhgiifiudisdiihgihsihgh hgdidhgie.

    beijos.

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  2. (desculpa, mas eu quero acreditar que, de certo modo, eu servi de inspiração!)

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