quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Sobre literatura e crítica literária marxista

Um dia haverá uma grande explosão, e todas as cidades e máquinas serão destruídas. Voltaremos à estaca zero tecnológica. Só sobreviverão, coincidentemente, esses indivíduos atualmente perdidos e inúteis, os simpatizantes da literatura. Eu sei bem o perigo dessas categorias vagas e por isso muito abrangentes – qualquer professorzinho universitário é elevado a um Spinoza, por tabela. Mas, ainda assim, peço que tomem simpatizante num sentido lato, lato. Afinal, comigo é que nem estar na cozinha do pensamento, de pijama em casa com as idéias. A gente nunca desenvolve nada que dê pra levar pro boteco pra se mostrar pra rapaziada.

Mas voltando: então, tem esse holocausto, e esses remanescentes maricas que gostam de livros. E finge que esse povo também não vai ter de se ver com nenhum problema relativo à escassez de alimento ou água. Tipo, o mundo vai ter explodido, uma porrada de gente morrido e tal, mas de resto tudo certo. É isso mesmo, isso mesmo, vocês pegaram bem o espírito da coisa. Bom, é aí que esse povo, muito de boa, em vez de encher o saco do público com intermináveis solos metalingüísticos, só pra mostrar como eles são perspicazes e virtuoses e tudo o mais, e também porque eles não tem nada melhor do que isso pra falar, é aí que eles vão escrever uns livros legais, que nem antigamente, quando era impossível que alguém, narrando uma história, dissesse que estava narrando uma história, porque a história era boa demais pra eles precisarem se perder em maçantes questões de método e simplesmente porque todo o mundo ia achar isso muito chato, muito babaca, que nem blog e tal. (Ah, mas antigamente era outra coisa, o sentido estava dado, a totalidade, etc, o crítico dialético vem aqui buzinar na minha orelha. Ah, é? Bom, cala a boca, e deixa eu contar a minha história. Nunca ouviu falar em suspension of disbelief? E não se preocupa que o finalzinho aí embaixo tá do jeitinho que você queria, Lukács.)

Este homem, ele ainda saltita pelo campo de centeio.

Afinal, eles vão ter alguma coisa pra contar que não sejam as desventuras de sua vida pequeno-burguesa de outrora. Eles vão falar sobre essa grande explosão e de como eles salvaram o mundo, mesmo que a verdade (é, a verdade...) seja que eles só tenham sobrevivido à droga da explosão, de cagados que eles eram. E todo o mundo vai pagar pau. E isso é Literatura. E História também, com movimento dialético e o escambau.

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