quinta-feira, 17 de abril de 2008

Da maldade

Nada como uma tragédia suburbana envolvendo uma criança para despertar o que há de pior nas pessoas. Tipo pipoqueiros na frente da casa dos Nardoni. Onde há um pipoqueiro, há muita, mas muita maldade. Só pensar um pouco. Por exemplo, em portão de colégio, que, you know, blogueiro, foi a pior época da sua vida, quando os moleques viam em filme americano os atletas do high school fazendo cuecão atômico e achavam engraçado e vinham experimentar em você. Não conseguiam, mas assim mesmo doía muito. E filme americano com adolescentes: muita maldade com um pipoqueiro no cantinho da tela, e às vezes, só porque ele é muito dissimulado e não quer que descubram que foi ele quem matou os 6 bilhões de judeus lá, alguém derruba ele, em alguma perseguição qualquer, e voa pipoca pra tudo quanto é lado.

Marcello fracassa em ser um blogueiro sério. No banco de trás, Paparazzo apelando.

Mas tinha um cara no colégio, que o Camarada Progressista também conheceu, que contava pra gente, durante aula vaga, que namorava uma pipoqueira, que trabalhava em frente do Senai onde ele estudava. E ela era bem mais velha que ele, tinha uns trinta. Fico pensando nisso e, bom, se pode haver algo mais perverso e inimigo de todas as coisas boas no mundo que um pipoqueiro é uma pipoqueira. Todo o mundo sabe que, pior que o diabo, só a mulher dele, porque é ela que cozinha. As pessoas não dão a devida atenção a esse detalhe, porque geralmente não se acham “muito ligadas à comida”, como se de repente todo o mundo comesse restos e nem notasse que tem a cabeça de um rato no meio da salada, mas a perspectiva de que, quando chegar em casa, vão estar te esperando com uma refeição, além de muito nutritiva, deliciosa e quentinha, bom, só isso explica porque os homens são tão menos frustrados que as mulheres.

À parte a exposição da dinâmica doméstica do Príncipe das Trevas, hão de convir que essa história das pessoas estarem indie-guinadas acaba virando desculpa pra elas serem escroques sem culpa ou punição, como elas gostariam muito de ser todo o tempo. E elas se esquecem de que quem fura fila - como elas - pode no mesmo dia matar alguém, porque a linha do crime que leva do banal ao hediondo é a única e a mesma. Se não acredita em mim, vai ver Tropa de Elite, se ainda não viu. Porque se o tal do José Padilha dirigiu aquilo, pode esperar por coisa muito pior, e eu sei que você achava que eu ia dizer outra coisa, a-ham.

Investigações concluíram: matou porque era escorpiana.

As pessoas estão sensibilizadas, estão colocando fotos da menina Isabella no álbum de fotos do orkut e escrevendo "luto" embaixo, muito, muito esquisito. Até eu ligar a televisão, e um sociólogo me explicar que é uma forma da sociedade exorcizar o fantasma sempre iminente da barbárie, dando uma nota sentimental e familiar a um caso que só tem se divulgado em sua faceta de brutalidade. Porque os gregos, para lidar com o horror da existência, criaram a tragédia, enquanto a gente picha muro com dizeres de ódio e come pipoca. Mas eu sei que é tudo culpa do pipoqueiro. Nós não queremos você aqui, pipoqueiro!

7 comentários:

  1. Hum, querido, muito sagaz. E a lindinha da Ana Rüsche tem um poema que ilustra bem esse post. Está na minha Certeza de Fazer o Mal, chamado Lugar Comum 7. Como eu sou uma fofa, vou deixar também neste comentário. Ah, xuxu, quero mais dias de jogar conversa dentro contigo (pessoalmente e por escrito), não pense que vou desistir, seu esnobe hehehehe. Beijinhos em você na tchurma regida pelo Geraldo. O poema da poeta querida, fofa, linda e brilhante que eu amoooooo no melhor estilo miguxês.

    Lugar Comum 7: A Sociedade Civil

    A cada segundo
    comem uma criança negra
    com mostarda de febre amarela
    A cada segundo
    comem um campo de futebol da floresta verde
    com molho vermelho de barro
    A cada segundo
    A cada segundo
    A cada segundo

    E aquela reunião não acabava nunca...tinha vontade é de comer pipocas.

    da Ana Rüsche. (leiam, muchachos)

    ResponderExcluir
  2. Pois são todos uns reprimidos, esses civis: morte, estupro, fratricídio...o que mais essa gente quer para que os fantasmas delirem? E no cantinho da tela o pipoqueiro anuncia o valor da vida e da morte. Humpft. Juro que não tenho estômago, como eu queria ser blasé nessas horas. Aff.
    PS: e tem poeta que escreve trocadilhos & anotações de viagem. Meu Deus, meu Deus. TPM não me mate. Alguém pode me trazer uma mordaça ou um fio de telefone que dê certinho no pescoço? Ai, ufa, acho que passou. Minha indignação é o melhor de mim. Mas seu humor, de fato, é mais ácido. Que dissolva alguma coisa ruim nesse mundo bizarro. TPM não me mate. Fui!

    ResponderExcluir
  3. Xuxu,

    voltei. Agora mesmo eu estava escrevendo e reparei um troço muito estranho. De modo indireto dialogamos, embora seu estilo seja mais Woody Allen e o meu alterne, bizarramente, Lars Von Trier & Charlie Chaplin (que metida, céus). Evidentemente, não me refiro às produções poéticas de Srta. Gouveia, mas aos posts, documentos efêmeros do estilo de escrever muito necessários. Muito, muito necessários. Ou pelo menos, temos preocupações semelhantes: o belo, a descrença total nesses fugitivos que ouvem pop-hits e lêem Caras, os mesmos que colocam a photo da Isabella no orkut e mal sabem se relacionar com os sujeitos ao redor. Céus. Do tipo, mas que absurdo! Deviam capar o cara que fez isso! Comendo a pipoquinha ou a batata frita crocante por fora e macia por dentro. Jesus ou Barrabás? Sabemos o que respondem. "Matem, esganem, trucidem o assassino da menina". "Mas como ele matou, teve requintes de crueldade, hein, hein, hein?" Os mesmos que param o trânsito para ver o sangue no asfalto depois de um acidente. Os mesmos que cantam "Tropa de Elite osso duro de roer", fumam um baseado de vez em quando, ouvem funk porque está na moda, bonequinhos do ventríloquo. Socorro. No melhor estilo miguxês, também amamos esses caras. Para quem escrevemos, afinal? Para TODOS. E TODOS são muuuuuuita gente. Enfim, minha analista diz que tenho de extravasar. Extravasemos.

    ResponderExcluir
  4. Não vejo a hora de passar essa comoção toda passar. A morte da menina Isabella foi mesmo muito trágica e os culpados realmente merecem ser condenados, mas o troço está beirando a espetacularização midiática, já! Chegou até no blog.


    E precisamos começar uma campanha:

    Maiara Gouveia para Camarada do Fomos ao Cinema.

    (Camarada Feminista? Idealista? Anarquista? Absolutista? Positivista? Epicurista? Hedonista? Onanista? Budista? Brahmanista? Kardecista? Panteísta? Integralista? Stalinista? Trostkista? Leninista? Marxista? Maoísta? Petista? Tucana? Democrata? Racionalista Cristã? qual seria o codinome ideal pra Camarada de saias?)

    Do jeito que ela escreve empolgada aqui, merece expressar no blog suas opiniões sobre cinema, música, poesia, filosofia, cultura pop e o cazzo a quattro, não? Além disso, chega de Clube do Bolinha neste blog. Ele está precisando de um charme feminino. E aí? O que estão esperando, Camaradas?

    ResponderExcluir
  5. Eita, anônimo. Quem és? Mas eu já lancei minha canditatura de Camarada Sambista no dia em que o Moderado ousou procurar o All Star cor-de-rosa. Estou aguardando os resultados. Podia ser também uma Camarada DDA ou algo que o valha. Você é anônimo menino ou menina. Como assim?

    Assinado: Camarada Empolgada.

    (e os meninos devem estar pensando: linha cruzada, err)

    ResponderExcluir
  6. uia! senti um clima!
    hehehehe...
    falando sério: acho legal a maiara entrar na camaradagem, é sempre bom ter uma opinião feminina na ida ao cinema, hehehehe...

    e eu às vezes leio CARAS, mas é pelas receitas, eu juro!

    e falando em ventríloquo, achei este muito bom:

    http://www.youtube.com/watch?v=wJ0wLhHq2SU&feature=related

    agora estou na espera "for the Rise of the Feminine Camarade"!

    ResponderExcluir
  7. Camarada Empolgada. Só sei de uma coisa:

    Tem mais de um anônimo postando aqui no blog. Como os meninos que postaram comentários lá na última edição do Tetéia da Semana. Não fui eu que postei aquilo. Acho que virou moda postar anônimo agora.

    Mas conte comigo pra apoiar a sua candidatura.

    (fim da linha cruzada)

    ResponderExcluir