terça-feira, 30 de setembro de 2008

Paul Newman - Uma Retrospectiva

Sábado, a nobre arte da parrudagem sofreu um golpe letal. Paul Newman, ator norte-americano e mito nas horas vagas, morreu de câncer no pulmão, aos 83 anos. Sério, top-4 dos cools da era pós-Classic Hollywood, ao lado dos pouco importantes Marlon Brando, James Dean e Steve McQueen. Basicamente, todo homem que nasceu depois de 1950 tem tentado ser como esses quatro, lógico que falhando todos miseravelmente no final. Mas ao invés de tentarmos ser Paul Newman e aguentar uma saraivada de porradas do George Kennedy e ainda nos mantermos em pé como ele fez no Rebeldia Indomável, que tal admitirmos que somos uns franguinhos, e homenageá-lo, recolhendo-nos à nossa insignificância? Todos em pé, pois agora vem a retrospectiva Paul Newman. Que momento. Que vida. Que Bernie Mac. Er, quer dizer, que Paul Newman.

Gata em Teto de Zinco Quente. No melhor estilo Tennessee Williams, Elizabeth Taylor estava necessitada, e querendo chamego. Newman não. Era quando ele quisesse, na hora que ele quisesse, e com quem ele quisesse. Entenderam? Por isso, Taylor saiu de mãos abanando. Outro homem seria sido tachado de maricas por perder tamanha oportunidade. Newman não. Quem era louco?

Desafio à Corrupção. No filme de Robert Rossen, Newman mostrou que a sinuca, normalmente associada aos tiozinhos cachaceiros e gordos, poderia também ser um troço perigoso. Fast Eddie Nelson jogando legal, o jogo da mesinha e o jogo da vida também. Bolas na caçapa, socos na fuça, e um George C. Scott arregando no final. Apelão? Não. Na cara de Newman vocês não diriam isso.

Rebeldia Indomável. Cool Hand Luke. O sangue e o inferno. Depois desse filme, todo machão começou a querer apanhar e ficar de pé. Para depois ir chorar na cama da mamãezinha. Newman? Ha ha. O inferno era seu velho conhecido. Brad Pitt aprendeu direitinho a lição, como vimos no Clube da Luta. Será, mesmo?

Butch Cassidy. O final, depois imitado no clássico sapatão Thelma e Louise, poderia sugerir uma certa, digamos, atração velada e fatal entre Butch e Sundance Kid, a velha simbologia boiola do oeste e dos cowboys, Brokeback Mountain style. Não, não, não. Na cara de Newman, ninguém nem respiraria pensando tamanho absurdo. Na do Robert Redford são outros quinhentos, o cara tá vivo ainda e sempre fez o tipinho "homem sensível". Lógico que depois, quem fizer isso terá que se ver com Paul na outra dimensão. O risco é de vocês.

Golpe de Mestre. Os incautos sempre imaginam ser esse uma continuação do Butch Cassidy, já que foi feito poucos anos depois e contava com Paul Newman e Robert Redford dirigidos mais uma vez pelo George Roy Hill. Tonhos, o filme se passa na Chicago da década de 30, auge da decadência americana pós-crash de 29. Quem falasse uma bobagem dessas na cara de Newman...

Inferno na Torre. Filme longo, chato e exagerado. Mas os dois protagonistas eram Paul Newman e Steve McQueen. Sério, com esses dois era "bom dia, Senhor" e depois olhar para cima, para aqueles que dessem valor às suas vidas. Eles mandaram os roteiristas escreverem o mesmo número de palavras nos diálogos para os dois, somente para eles poderem disputar de maneira justa quem seria o melhor ator. É parrudagem demais para nós, homens comuns.

Grupo de humor inglês Monty Phyton. Não, Paul Newman não fazia parte dele. Não, ele jamais participou do seriado de televisão, dos filmes ou dos especiais. Não, não se sabe qual era a opinião dele a respeito do grupo. Por que então eles estão aqui? Porque eles eram engraçados pra cacete. Pra dar uma descontraída, sabe como é, o clima anda tenso e triste demais nesse post.

O Veredito. No filme de Sidney Lumet, Newman oferece uma das três atuações de cachaceiros mais lembradas da história do cinema (as outras duas sendo o Ray Milland no Farrapo Humano e o Jack Lemmon no Sonhos do Passado). Não que alguém fosse chamá-lo de pau d'água na cara dele. Diríamos apenas, "nossa, Senhor Newman, eu nunca vi uma atuação tão realista de um alcoólatra! O Senhor foi tão perfeito que até dá pra acreditar que é chegado numa birita na vida real!". Nessa, não ficariam nem os pensamentos na cabeça do infeliz. E cadê a Charlotte Rampling? Era uma coisinha meiga essa atriz.

A Cor do Dinheiro. Continuação forçada do Desafio À Corrupção, 20 anos depois do filme original. Divide com Gangues de Nova Iorque o título de pior filme feito pelo Martin Scorcese. Mas rendeu a Newman seu único Oscar, entre as 10 indicações que recebeu na carreira. A Academia pode ser tudo, menos louca. E Newman tentou ensinar a arte da cooleza e da parrudagem para o Tom Cruise, mas sabe como é, o cara tem que nascer com isso dentro de si. Se não, toca pra cientologia, que é o oposto do cool.

Na Roda da Fortuna! Os Irmãos Coen puderam contar com Newman quase de graça, já que ele era fã dos filmes da dupla. Provavelmente foi a escolha de ator mais acertada na história do cinema. Newman humilha em toda cena que aparece. E ninguém foi louco o bastante para tentar mudar isso. Tim Robbins foi de uma subserviência sábia

Estrada da Perdição, último filme live-action protagonizado por Newman, rendeu também sua última indicação ao Oscar. Mesmo com 76 anos de idade, ainda sim Newman provocava temor nas arcadas dentárias alheias. É pra quem pode, não para quem quer.

Carros. Não, esse não é o Paul Newman vestido de carro vintage. Seria uma posição muito desconfortável para um senhor de 80 anos de idade. Newman apenas emprestou sua voz para o carro ai em cima. Última vez na qual sua voz foi ouvida no cinema, quase cinquenta anos depois do começo de sua carreira. Não que alguém fosse louco de chegar nele e falar, "nossa, véio, ainda está nessa de fazer filmes? Vai pra casa jogar bingo!". Geração após geração aprendia com louvor a lição: com o Paul Newman é sempre bom manter o respeito, conserva os dentes. D2!

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Para finalizar, gostaria de dizer que a persona cool-não-ligo-para-nada-e-se-você-tiver-algum-problema-com-isso-vem-e-fala-na-minha-cara não correspondia ao verdadeiro Paul Newman, que era um notório gentleman e ativo financiador de obras de caridade, ações humanitárias e movimentos de minorias. Não, eu não arreguei pra ele não! Não falem uma coisa dessas! Tá, tá bom, vocês venceram. É que, tipo, vi ontem mais uma vez o Rebeldia Indomável e bateu um medão... Sim, Senhor Newman! O Senhor tem razão, Senhor Newman! Sim, eu sou um moleque idiota, Senhor Newman!

Um comentário:

  1. quantos metros tem o tim robins?? quantos metros tem o paul??

    Sou gamada no Paul Newman, adorei o post. Que gato!

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