terça-feira, 25 de dezembro de 2007

December 25

Como é Natal, me permiti brindar com champanhe, quer dizer, espumante, porque champanhe mesmo é amarga demais pros paladares aqui de casa. Só que, como eu nunca bebo, um golinho apenas me deixou zonzo e comecei a alucinar. Eu bebo e alucino, pois é. Suspension of disbelief e próspero ano-novo para todos!

Papel Noel com o saco da Dolce & Gabbana, Michael Scott, gerente da Dunder Mifflin Scranton, e Ernest, sentados na sala, assistindo Matrix Reloaded. Não, isso não. Falei que a gente ia assistir Irmã, La Douce. “Mas não é filme natalino”, objetou Ernest. Nem Matrix Reloaded, Ernest.

Cada um curte o Natal como quer, mas principalmente como pode. Mas sabe o que é mais importante? É ter quem a gente ama perto da gente. Natal é isso: as pessoas. Que haja quem pense diferente é algo que me surpreende. Que me choca. Pois é, Michael, pois é.

Mas ele e o Ernest estão, cada um a seu modo, na restrita galeria daqueles que salvaram o Natal. Então, a gente respeita. Papai Noel é que mudou, muito materialista. Tá, isso ele sempre foi; eu é que, criança, não sacava essas coisas. Um sujeito que é pai, mas cuja idéia de relacionamento consiste em aparecer uma vez no ano com um presentinho? Ele ainda tentou comprar o meu amor. Mas nem me conhece: trouxe um box do 24 Horas. “Você gosta de seriados, né?” Nem me conhece. Pelo menos dá pra passar pra frente e faturar algum.

Jack Lemmon, esse sim é ponta firme. Ele e a Shirley MacLaine, antes dela descobrir que era Deus. Jack Lemmon, Shirley MacLaine e Billy Wilder. Por que o Billy Wilder nunca fez filme de Natal? “Mas ele fez”, interrompe o Ernest. O Ernest, tipo, manja muito de cinema.

Não, quem fez foi o Lubitsch. A Loja da Esquina, com o James Stewart. “Mensagem para você, com o Tom Hanks e a Meg Ryan, era refilmagem desse”, Ernest fez a lição de casa, então. James Stewart, sim, senhor. Salvou o Natal de muita gente. Quantos melancólicos desistiram de um gesto desesperado só por causa de A Felicidade Não se Compra?

“É mesmo”, todos dissemos. Inclusive o Papai Noel. Dissimulado esse velho, sei que nunca viu o filme. A desculpa dele é que é p&b e cansa muito as vistas. As tuas retinas tão fatigadas, né, Noel? “É, isso mesmo”, sonso. Aí eu falei que quem devia de ser o Papai Noel é o James Stewart. Nessa hora, os dois, Papai Noel e Ernest, se queimaram. O Ernest é mó Dwight Schrute do Papai Noel. O clima ia ficando pesado, então o Michael falou que era hora do karaokê.

Ernest nos tempos do College: e era só o começo, Papai Noel ainda ia se gabar de quando faturou o primeiro milhão. "Natal, época de lembranças felizes."

E eu continuei só nos golinhos. Alguém estava mantendo a droga do copo cheio, mas eu nem ligava. Michael deu uma de Scarlett Johansson em Lost in Translation: “Gonna use my arms / Gonna use my legs / Gonna use my style / Gonna use my sidestep / Gonna use my fingers / Gonna use my, my, my / Imagination, oh-ohh”.

“E a namorada?”, perguntaram. Nem sei, gente, nem sei. Eu comecei a achar que os três estavam ali pra forçar um A Christmas Carol muito do atropelado. “Agora eu sou o Scrooge, então?”, eu gritei pra aquela corja, já quebrando uma garrafa de cidra na beirada da mesa e puxando eles pra briga. Ia mal a festa, confesso.

Começaram as acusações. Eles eram tudo uns vendidos. Ernest era o fantasma do Natal Passado; Michael Scott, o do Presente; e o Papai Noel... não, ele não podia ser o do Futuro, afinal, esse era o último ano que eu convidava ele pra passar o Natal aqui em casa. Ano que vem, a janela fechada pra você, Karl. (Também não gosta de quando chamam ele de Karl.) Mas se não era o Papai Noel, quem seria o do Futuro? Falta alguém chegar, então?

“O futuro – Michael, sempre muito conciliador, começou a arrazoar – é a gente que faz, ninguém pode determiná-lo. Nem sob a autoridade do mágico-religioso. E bem sei que todos aqui crêem na magia, principalmente na magia desta época.”

Lá fora, garotões com topetes empastelados de gel gritavam:

“Ah, u-hu-hu-hu-hu! O Natal é nosso! U-hu-hu-hu-hu!”

“Corretores da Bolsa”, Papai Noel reconheceu, espiando pela janela, e acenou pra eles.

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