domingo, 23 de dezembro de 2007

Intermezzo natalino

“Neide, meu filho fica só assistindo The Office. Ai, Neide, até aprendi o meu inglês, The Office. Mas então, ele e os meninos, amigo dele, inclusive uma esquisitinha, que teve uns tempos que eu achei que ele tava namorando ela, eu já te falei dela, Neide; eles vieram aqui em casa e passaram a tarde toda, assistindo The Office. É isso que essa molecada acha que é curtir; em vez de sair, tomar um ar, dançar, né? Pouco antes do Natal, a casa uma bagunça. A gente sabe, a molecada não repara nessas coisas, mas é sempre um horror, Neide.

Mas então, Neide, sabe que eu sentei pra ver um pouquinho com eles, o Carlinhos virando os olhos, aí que eu fiz de pirraça, mesmo, Neide. E tinha o chefe, perguntei pra molecada como é que era o nome dele. Michael. Molecada simpática mesmo, tudo esquisitinha, mas simpática. Aí, esse Michael me lembrou aqueles filmes da nossa época, Neide. Sabe, as pessoas de bem com a vida mesmo, sem essa chatice da molecada de hoje em dia. Olha, simpatizei com o homem. Os amigos do Carlinhos tudo viram que eu tava gostando mesmo do filminho, abriram espaço no sofá, e eu fiquei ali com eles, ali no meio. Parecia uma adolescente. É claro que o Carlinhos não gostou, né, Neide. O menino fica constrangido por nada, depois sai bufando, que nem o pai. Que nem o pai, Neide. Os dois brigam com essas minhas loucuras, Neide.

Aí começou um papo entre a molecada, de 'gente que tinha salvado o Natal', e aí falaram de um lá, que eu perguntei quem era, e eles disseram que era o ator principal daquele filme do prédio, que explode tudo. Esses filmes de ação horrorosos, que o Carlinhos e o pai dele ficam assistindo. Duro de Matar, Neide. Lembrei. Mas então, aquele homem desse filme, Duro de Matar, ele é uma graça, meio carequinha, uma graça. Só sei que a molecada tava elegendo ele e um outro lá, mas desse eu não vou lembrar mesmo o nome; só sei que fez um monte de filme, um homem feio, feio. E aí puseram esse Michael no meio, falaram que ele também salvou o Natal. A molecadinha tem um papo esquisito, umas coisas que não têm nada a ver, né, Neide? Que que ‘cê acha, Neide?”

“Tudo nerd.”

“Ai, Neide. E não é mesmo?”

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