segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Oscar 2008: Tudo sobre a festa

A primeira cerimônia do Oscar que assisti data de 1991, quando tinha meros 7 anos de idade e implorava aos meus pais que me deixassem ver pelo menos uma parte. Desde aquela longínqua festa até hoje, datam 17 anos. E posso dizer então que, desde aquele dia no qual o insuportável Dança com Lobos foi agraciado, a cerimônia de ontem, que consagrou os Irmãos Coen, foi, disparada, a pior, mesmo para o já tradicional nível altíssimo de chatice que povoa as premiações. A greve dos roteiristas jogou por terra qualquer chance de se ter um evento de nível. Com apenas três semanas para preparar, os manda chuvas da Academia optaram pelo caminho mais simples, fazendo uma cerimônia rápida (3 horas e 17 minutos, para se ter uma idéia, a premiação de 1999 bateu nas 4 horas e 20 minutos) e brutalmente simples. Sério, em alguns momentos, lembrei do VMB, premiação paupérrima da nossa combalida MTV Brasil. Isso não pode, em momento algum, ser um bom sinal. No ano que a festa completava oitenta anos, eles tiveram a pachorra de entregar um negócio feito nas coxas. O "apresentador" (sic), Jon Stewart, poderia ter sido facilmente trocado por uma fita de gravação anunciando os apresentadores. Tá, eu sei, por culpa da greve ele teve apenas onze dias para preparar as piadas, mas o que acontece com o conceito de "improvisação"? O monólogo de abertura dele durou uns, vamos ver, 3 minutos, sem qualquer piada inspirada, sem os vídeos que zoavam os filmes indicados e proporcionavem bons momentos, principalmente quando o Billy Cristal apresentava (tiraram ele da premiação por ele supostamente estar velho para o público mais jovem, uma estultice sem tamanho). Imagino que ele zoaria pacas o Juno, vestindo até uma barriga postiça. Mas, os tempos são outros. Stewart se limitava a fazer o trivial, claramente instruído para não prolongar nada. Fomos poupados de suas insuportáveis piadas políticas, pelo menos. O momento que ele apareceu jogando um Nintendo Wii no palco figurará para sempre entre os momentos mais constrangedores da festa em todos os tempos (aliás, propaganda fácil é isso aí, triste). Para conseguir audiência, colocaram até a Hannah Montana (é assim que se escreve?) para apresentar um prêmio. Para atrair o "público jovem" (esse desconhecido), sacaram? Sim, isso deve ter resolvido. Todos os textos introdutórios dos apresentadores dos prêmios estavam absolutamente fracos, beirando o ridículo em alguns momentos. O único momento engraçado ocorreu quando o James MacAvoy e o Josh Brolin foram apresentar o prêmio de roteiro adaptado, e fugiram do script, dançando e zoando com a cara um do outro. Acho que o fato deles serem atores talentosos facilitou.

Os números musicais das canções indicadas ao prêmio de melhor música foram embaraçosos, de uma pobreza espartana. A Amy Adams cantando sozinha, sem qualquer acompanhamento, a música do filme Encantada (o filme teve 3 canções indicadas, e todas foram interpretadas no palco, haja saco), foi a hora na qual eu lembrei do VMB. Não, nem os diretores da MTV Brasil permitiriam algo tão simplório. Quando o Owen Wilson foi apresentar o prêmio de curta-metragem, achei que seria um bom momento para ele falar sobre sua recente tentavia de suicídio, já que era sua primeira aparição pública depois do fato. Que nada. Limitou-se a falar um texto clichezento sobre a importância dos curtas e anunciar os indicados e o vencedor, tudo com uma cara estranhíssima. Olha, pelo jeito, aquela tentativa não será isolada. Alguém interne o Owen Wilson urgente, por favor. O único momento belo gerado pelo Jon Stewart foi quando o casal de atores do filme Once, Glen Hansard e Marketa Inglova, ganhou o prêmio de melhor canção (venceram as três músicas do Encantada, rárárá. No mais, a música era bem bonita mesmo), e foram agradecer. Apenas o rapaz pôde falar, quando ele terminou o discurso e a Marketa ia para o microfone, a música cortou, abrupta e deselegantemente. Na volta dos comerciais, Stewart pegou a tímida garota pelos braços e a levou para o palco, para ela, enfim, poder agradecer pelo prêmio. Pelo menos educação o Jon Stewart tem, e será que não seria esse o problema? Mas foi um belo momento.

Há alguma dissimulação nos modos tipicamente democratas de Jon Stewart? Não. Somente a bela e cada vez mais perdida gentileza. Agora, as piadas....

No tradicional clipe que lembra e "homenageia" os mortos do ano anterior (o famoso clipe fúnebre), tivemos de ver Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman colocados no meio de um monte de zé-ninguéns, com direito ao mesmo tempo dado para todos os outros incautos. E, logicamente, fecharam o clipe com o Heath Ledger. Sim, todo mundo ficou chocado com a morte dele, mas não existem parâmetros para se comparar a importância de um Bergman e de um Antonioni com a do jovem ator australiano. Terrível. Mas é normal para a Academia, exemplo disso é que Stanley Kubrick e Marlon Brando tiveram direito apenas a finalizarem o clipe no ano que morreram, sem direito a homenagens isoladas, algo dado para um Jack Lemmon, por exemplo, que embora seja um mito (merecidamente), era um notório puxa saco da Academia. Sério, Brando e Kubrick. Fazer o quê. Voltando à cerimônia desse ano, é hora de falar dos prêmios. Seguem aí embaixo comentários sobre os vencedores

Melhor ator coadjuvante: Javier Bardem ganhou, como era esperado. Justíssimo, seu personagem provavelmente entrará para o rol dos maiores vilões do cinema, sem exagero algum, e Bardem é um dos melhores atores do cinema contemporâneo. Mas eu ainda estou com medo do Anton Chigurh. Se eu ver o Bardem na rua, eu atravesso pro outro lado e saio correndo. Sai pra lá, tanque de oxigênio mortal!

Atriz Coadjuvante: Tilda Swinton venceu. Vergonhoso. Ela fez cara de quem não esperava, pareceu surpresa. Eu sei o motivo. Ela mais do que ninguém sabia que sua indicação tinha sido absurda. Terem a coragem de dar o prêmio para ela foi o tiro no pé. Triste. Mais uma atriz medíocre premiada nessa categoria que raramente prima pela justiça e coerência.

Roteiro Adaptado: Onde os Fracos Não tem Vez. Vitória que indicou que seria a noite dos Coen, ganhando a primeira disputa com o Sangue Negro. Vi pela primeira vez os irmãos, e eles são inacreditavelmente tímidos, superando o Charlie Kauffman quando ele foi pegar seu prêmio pelo Brilho Eterno. Mal queriam falar, loucos para saírem logo do palco.


Roteiro Original: Preparem o saco de vômito. Quando eu contar 1, 2, 3: BLAAAAARGGGHHHH!!!!!! Juno ganhou o prêmio. Tivemos de ver a Diablo Cody subir e pegar sua estatueta. Eu achava que o prêmio mais absurdo da história tinha sido o de coadjuvante para a Renée Zellweger pelo Cold Mountain, mas esse supera com honras. Juno é um filme que, quanto mais penso nele, mas vejo o quão revoltantemente medíocre é. Vamos ver se a garota continua enganando os incautos por muito tempo. Lembram quanto durou a Nia Verdalos, depois do Casamento Grego? Dez minutos, e vala do esquecimento pra sempre? Pois é, Diablo Cody, você é a próxima, vai voltar a dançar no queijo logo, logo.

Diablo Cody, mostrando que encara a matança de animais selvagens em nome da moda da mesma maneira que encara a gravidez infantil. "É tudo uma grande brincadeira! Hihihihihi!". Há, era uma imitação de pele? Sei. E tá rindo do quê, Harrison Ford?

Atriz: Marion Cottilard. Um belo momento de clareza na Academia. Aliás, tirando a Tilda Swinton, os outros prêmios de atuação foram justíssimos, como raramente se vê na premiação. Como estou pegando raiva da Ellen Page, por ela ter feito aquela droga do Juno virado coqueluche, fiquei mais contente ainda que o sensacional retrato da cantora francesa Edith Piaf feito pela Marion Cottilard tenha sido agraciado com o prêmio. E a Ellen Page não merecia mesmo, por melhor que tenha sido sua atuação. Falam que a Cottilard disputou palmo a palmo com a Julie Christie, mas eu não acredito. A Julie Christie morreu de frio quando filmava o Doutor Jivago em meados de 66, e com certeza não chegou viva aos nossos dias. In memorian.

Ator: Daniel Day-Lewis. Junta-se ao rol que inclui Spencer Tracy, Fedric March, Gary Cooper, Marlon Brando, Dustin Hoffman, Tom Hanks e Jack Nicholson, como o dos atores com o maior número de prêmios na categoria principal, com duas estatuetas. Um olimpo, ao qual Day-Lewis se junta com toda a justiça. Gerou um momento engraçado, quando foi receber o prêmio da Helen Mirren, se ajoelhou, na pose que fazem aqueles que são condecorados pela rainha Elizabeth como cavalheiros do império britânico, numa referência ao papel dela no filme A Rainha no ano passado. Helen comprou a brincadeira, e com o Oscar que ia dar para o Daniel fingiu condecorar o irlandês. Vão saber improvisar assim lá no inferno!

Diretor: Como eu já havia antecipado (sou humilde, pô!), os irmãos Coen, Joel e Ethan, foram os vencedores. O filme é maravilhoso, mas se a estatueta tivesse ido para o Paul Thomas Anderson, seria justo também. Prêmio que reparou a injustiça de 1996, quando eles, representados pelo Fargo, perderam o prêmio para o péssimo Anthony Minghella com o Paciente Inglês.

Filme: Onde os Fracos Não Têm Vez foi o vencedor. É o melhor filme a ganhar o prêmio desde o Lista de Schindler, na minha opinião (aos que veneram o Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei: talk to the hand!). Mas eu, sinceramente, tinha uma queda maior pelo Sangue Negro. Não me levem a mal, são dois filmes estupendos (adjetivo tipicamente italiano), mas na ponta do lápis, daria os prêmios de direção e filme para o Thomas Anderson. Mas, pelo amor, depois de sermos torturados vendo nulidades como Crash, Chicago, Uma Mente Brilhante ganhando nos últimos anos, e vendo também anos nos quais o melhor que se achou foram filmes eficientes, porém longe de serem brilhantes como o Menina de Ouro (filme que está caindo em esquecimento) e o Os Infiltrados, a vitória do Onde os Fracos não Têm Vez é rendetora. Aliás, vamos falar a verdade aqui: a lista de filmes medíocres premiados como melhores filmes pelo Oscar, em toda a história do prêmio, é gigantesca. Foi muito mais difícil fazer a lista de piores filmes premiados, tamanha era a oferta, do que a dos melhores, para vocês terem uma idéia. O que aumenta ainda mais a importância da vitória do filme dos Coen.


Irmãos Coen, mostrando todo o conforto com os holofotes. Para melhorar, tiveram de subir três vezes no palco. É, talvez fazer o Matador de Velhinhas não tenha sido má idéia então... No Award For Bad Movies

O filme mais premiado na noite foi o Onde os Fracos Não Têm Vez, com apenas 4 estatuetas. O que confirma uma tradição recente da academia, que desde os 11 prêmios dados em 2003 ao Senhor Dos Anéis: blá-blá-blá do Rei, tem dividido muito mais os prêmios entre todos os competidores. O segundo filme mais premiado na noite de ontem? Adivinhem? Sangue Negro? Não, ganhou só 2. Conduta de Risco? Não. Desejo e Reparação? Que nada. O segundo filme mais premiado ontem foi o Ultimato Bourne, com três prêmios. Tá na hora da Academia rever os seus conceitos, urgentemente. De resto, nos vemos no ano que vem. E que tragam de volta o Billy Cristal. Em terra de cego, quem tem um olho é rei.

3 comentários:

  1. Seguindo o período oscarítico:

    http://laryff.com.br/?p=1220

    Enjoy, Comrades!

    ResponderExcluir
  2. Sempre bem informada pelos camaradas. Obrigadinha. Nem vejo a cerimônia nem procuro a lista dos vencedores no link da UOL. Por aqui, a coisa é bem mais divertida.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns, vc é muito bem informado!!! Eu queria saber como é o covite para a festa da premiaçã???

    ResponderExcluir