Quando eu vejo Coração de Cavaleiro (A Knight’s Tale), torço que nem uma menininha pra que o mocinho vença no final e dê uma boa lição naquele vilão malvado. E, ai, como eu sofro, até parece que há alguma chance real do mocinho não se dar bem. Mas eu tenho toda a razão pra agir assim, pois foi pra isso que fizeram esse filme: foi pra isso que transformaram a Idade Média em cenário pra um Dez Coisas que Eu Odeio em Você do amor cortês, inclusive com o mesmo Heath Ledger que havia protagonizado o original. Sabe, o Heath Ledger, o vaqueiro afásico e trans-viado (tsc, tsc, tsc...) de Brokenback Mountain?
Acontece o seguinte. Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland pisou na bola com a menina (como todo homem cedo ou tarde pisa) e, pra remediar a situação, diz que vai ganhar cada uma das disputas do torneio de justa por ela. Ah, e aqui começa o calvário do homem – quando ele está por baixo, e quando ela está por cima, e ela sempre quer ficar por cima, porque ela sempre se faz de vítima, e porque ela, afinal de contas, tem algo que ele quer (e que, pelo menos supostamente, naquela época, era guardado atéééééé depois do casamento: imaginem, pois, o poder das mulheres de então; bobas as de hoje, que já vão entregando o ouro, de primeira). Então, Jocelyn, aproveitando-se do fato de que ele está comendo na mão dela, lhe pede justamente aquilo que não só ele, mas todo homem, mais valoriza, sua masculinidade. Sim, Camarada X, cedo ou tarde, as crescentes exigências dela acabarão inevitavelmente incidindo sobre o seu bem mais precioso, que até então você julgava inalienável: sua masculinidade. Ela pode tirar isso de você e não hesitará em fazê-lo, seja forçando-o a usar gola alta ou, como no caso de Lady Jocelyn, pedindo ao Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland que perca o torneio. É, que ele perca. Ah, a pérfida, sabendo do orgulho de Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland, para quem perder era, como para todo homem, no mínimo desonroso, lhe pede que perca, a fim de provar o seu amor por ela.E ele, ingênuo, tolo, idiota, como todos nós, homens, somos, ainda que num primeiro momento relute, obviamente aceita a exigência. Como todos nós, ele se rende a ela e a suas romantizações cruéis e desumanas. Daí, o que se segue, em ritmo de videoclipe, é a série de derrotas e violências a que ele se submete sob o olhar satisfeito (e tímida e ternamente sádico) de Jocelyn, que, afinal, tem certeza de que Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland a ama. Ah, perva. E aqui está o momento genial de um filme tão despretensioso: na caracterização de Lady Jocelyn, fruindo sua vitória, sua castração do ser amado: ela sorri gostosamente. E ainda que vire o rosto nos momentos em que a lança explode contra o peito ou contra o elmo de Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland, fazendo-o cair do cavalo violentamente, ah, ela jamais deixa de sorrir, plenamente realizada.
Nesse último mês, o mundo do cinema perdeu, quase que de uma vez, dois mitos: Michelangelo Antonioni, diretor dos classicáços Depois Daquele Beijo e Profissão: Repórter, e o espetacular Ingmar Bergman. As duas mortes reacenderam uma velha questão: quem seria o melhor diretor vivo, já que Bergman, que detinha quase que por unanimidade o título, nos deixou. Esses dias li um ranking de um site americano (não guardei o link, podem me bater), que fez um apanhado dos melhores de todos os tempos, e cometeu estultices inacreditáveis, como colocar o Luis Bunuel na trigésima sétima posição, o Kurosawa em décimo primeiro, atrás do David Fincher, que é um excelente diretor, mas que ainda precisa correr muito pra poder chegar nesse nível. Mas a pior de todas foi a colocação do Federico Fellini: sexagésimo sétimo. Isso mesmo. Ai não dá, é pra cuspir na cara do cidadão que me faz um negócio deles. Mas voltando ao assunto do dia, melhor diretor vivo. Eu me arrisco aqui a fazer uma tentativa, com a cara e a coragem, pelo bem de nossos leitores. Quer dizer, coitados... 

Ultimato Bourne








Eu assisti ao Fargo pela milésima vez esses dias, num dos canais a cabo da vida. Esse é o filme mais famoso dos Irmãos Coen, Joel e Ethan, e abocanhou bela carreira em premiações internacionais no já longínquo ano de 1996, chegando até mesmo a receber uma indicação ao Oscar de melhor filme. Não é o meu favorito deles (o eleito vocês saberão quando eu fizer o meu ranking de filmes dos irmãos Coen, sou chato mesmo), mas é, sem dúvida alguma, um grande filme. O elenco reúne dois atores que poderiam muito bem exemplificar toda a cena alternativa dos anos 90, o William H. Macy e o Steve Buscemi. 























