quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Bergman, o quarto (rei) mago

Filmes cujo roteiro tem por base uma peça teatral são geralmente recheados de falatório. Pensem em Closer, por exemplo: parece que Clive Owen e cia. nunca mais vão calar a boca. E quando não estão falando, tem aquele carinha repetindo sem parar que não consegue tirar os olhos da mina (é, finge que é uma mina mesmo). Esfregam na cara da gente parágrafos e parágrafos de diálogos espertinhos e afiados. E a gente sai do cinema pensando que filme inteligente acabou de ver e até se sentindo, a gente mesmo, inteligente por ver um filme assim. E, de fato, é o principal efeito que uma produção como Closer visa provocar nos espectadores. O principal e único, às vezes chego a pensar (mas só às vezes). Como uma conversa entre dois indivíduos muito perspicazes que ficam se exercitando em piadinhas oblíquas e herméticas que ninguém mais, a não ser eles, entende.

Só que, diferente do que parece, nem é esse o ponto que eu quero demonstrar. O que me interessa é Ingmar Bergman, que faleceu, e eu fiquei sem dizer nada. Closer era só uma desculpa ou passo para ilustrar uma das tantas qualidades do cineasta, a qual eu gostaria de destacar e, assim, prestar minha tardia - pra vocês, é claro - homenagem. Pois Bergman veio para o cinema do teatro. E ao longo de sua vida, ao lado do cinema, o teatro sempre foi sua grande paixão, da qual nunca se afastou, escrevendo e dirigindo. Isso todo o mundo leu em biografias as mais variadas e vagabundas, tipo, daquelas de verso de DVD.

Mas nessa passagem do teatro para o cinema, iniciada como revisor de roteiros e depois roteirista, Bergman soube reconhecer e respeitar as especifidades de cada expressão artística. E, em vez de encher a tela de falatórios sem fim, privilegiou a essência do que é o cinema, ao fazer as imagens falarem por si só através do silêncio. E quando suas personagens falavam, o que a câmera mostrava (os close-ups tão peculiares) acabava sobrepondo-se, como seu maior trunfo retórico, ao próprio conteúdo do dircurso.
Bergman, no entanto, era um chato; ou melhor, seu cinema era chatíssimo. Porque ele era bem bacanundo, ele como pessoa humana, entendem? Mas Bergman é morto. Então, Bergman era pop: isto é, dos "cineastas difíceis", sabe, aqueles em que nem adianta chegar chegando, que não rola de jeito nenhum; em comparação a estes, ele era plenamente assistível. Filmes como O Sétimo Selo, A Fonte da Donzela e Fanny e Alexander são muito acessíveis. Pelo menos, quando a gente não sofre de preguiça cerebral crônica, concessão que já se fez por aí, dado que é um caso comum. Mas eu, se fosse prefeito, ou presidente, ou se trabalhasse na alfândega, ou então se fosse um Imortal, aí tinha que todo o mundo assistir Bergman; e ai de quem não gostasse - eu botava pra ouvir horas e horas de música instrumental zzzzzzzzzz... pra ver se aprendia a deixar de ser filisteu. Filisteu não; é tonto mesmo. Mas aí é eu, e eu sou bom demais pra isso aqui.

Um comentário:

  1. ótima comparação!
    dá pra notar direitinho quando um filme foi mal adaptado do teatro... fala, fala, fala... e o pior é quando decidem filmar tipo teatro... de longe... tirando toda aimportância de um close pra ver a exprexxão doa tor, que no teatro, é preciso de lupa...
    quanto a closer... todo mundo gostou pois fala tudo o que todo mundo realmente quer: foder os outros sem se importar...

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