quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Fomos ao cinema ver: Os Simpsons, o filme

Domingo, eu e o Camarada Moderado fomos assistir ao filme do Simpsons, numa gigantesca sala de cinema na avenida mais famosa de São Paulo. E hoje, quinta feira, venho aqui falar do filme. Por que demoramos tanto, quatro dias, pra falar do filme? Não sei. Deve ter sido o frio. Darei aqui, então, o meu veredito sobre a produção, que acho não ser o mesmo do Moderado, que depois poderá vir aqui e dar a sua visão. Sempre mostrei-me cético e pessimista em relação às possibilidades do filme. O raciocínio era lógico e preciso: se as últimas oito temporadas do desenho tinham sido vergonhosas, consenso geral e indiscutível, porque esperar algo diferente de um filme concebido no meio desse panorama desolador? Distante uma década da era de ouro do show? O tempo, meus amigos, é o inexorável senhor da razão. Mas, ao assistir o filme, teria eu confirmado essas previsões tão pessimistas, ou teria me surpreendido positivamente?
Se fosse resumir, diria que, se nós considerássemos o filme como um episódio estendido, poderia-se considerá-lo como o melhor episódio dos últimos tempos. O que na prática não significa muita coisa. O roteiro, escrito por dez roteiristas (pra quê tanta gente, caramba?) num período de um ano, deu abertura para sequências que mostraram um pouco mais dos conflitos dos personagens, aproveitando bem a maior duração de um longa-metragem. Os aspectos técnicos também foram muito bem aproveitados, pela primeira vez pudermos ver a cidade de Springfield num aspecto geral, e os personagens jamais tiveram um visual tão rico quanto aquele do filme. Mas isso já se notava nas últimas temporadas do show, nas quais o visual têm sido o único destaque, então não vejo vantagem nenhuma aqui. Quanto a trama do filme, na qual Springfield é considerada, por uma burrada do Homer, como a cidade mais poluída do mundo e um político de uma associação ambiental convence o presidente americano, Schwarzenneger (rá,rá,rá) a colocar uma redoma de vidro na cidade, isolando-a do mundo e colocando o relacionamento do Homer com a família em xeque, obrigando-o a agir para salvar a cidade da destruição iminente, não achei nada, mas nada mesmo, de relevante. Olha, a Lisa fazendo uma palestra para alertar os perigos do aquecimento global, parodiando o Al Gore. Rá, rá, rá. Pra quê colocar o Schwarzenegger como presidente, se o desenho já têm um personagem que é uma hilária caricatura sua, Rainier Wolfcastle, que garantiu momentos memoráveis no desenho? E o pior, sem tirar uma piada decente disso? Sério, o Schwarzenegger é mera escada para o tal político, que aparece exageradamente no filme, considerando-o um elemento totalmente alienígena dentro da série.
Esperamos o filme todo por uma piada realmente engraçada com o Arnold, mas parece que a piada era mesmo ele ser o presidente americano. Pronto. Rir dele sentado na mesa principal da Casa Branca. O show, como tem sido a tônica na Tv, se concentra na famosa "paródia por paródia", ou seja, coloca os personagens na mesma situação do alvo original, mas sem desenvolver nada, como faziam de maneira genial na era de ouro do desenho. Essa parte é cansativa, o conflito com a cidade é moroso e desvia por demasiado a atenção dos personagens. Tanto que tipos fundamentais do desenho, como Krusty, Burns e Smithers, são reduzidos a meras figurações. Pelo que contei, os três têm direito a apenas uma fala cada um no filme todo. Isso mesmo, uma fala, enquanto o tal político aparece minuto sim, minuto não, sem ter nenhum traço realmente importante ou uma personalidade destacada. Imperdoável.
Os conflitos da família, com Marge e os filhos colocando o Homer na parede pelo seu egoísmo, soam artificiais demais para aqueles que lembram que um dos truques do desenho era tirar observações ferinas da realidade dos personagens. A situação com o Ned Flanders e o Bart já tinha sido explorada num excelente episódio no qual o Homer e Marge perdiam a guarda dos filhos e eles iam morar com os Flanders (na época a mulher do Ned, Maude, ainda era viva. Aliás, até hoje não entendi o propósito da morte dela), e o Bart também questionava o amor de Homer por ele. Repeat it again.
Depois de todas essas porradas, digo que, se a intenção dos produtores era criar para o filme uma trama mais ambiciosa e universalista, que sacrificasse 90% dos personagens para não dar ao espectador a desagradável sensação de estar se assistindo a um episódio estendido, eles mais uma vez estariam sendo hipócritas ao não assumir que um filme é totalmente desnecessário e que o objetivo é ganhar dinheiro mesmo, ao invés de melhorar a qualidade do desenho e tirá-lo do abismo que eles mesmo colocaram nos últimos tempos. Junto-me ao coro daqueles que dizem que o ponto da virada que o desenho deu rumo ao caminho da ganância e da mediocridade deu-se em 1998, quando Groening saiu para fazer o Futurama e que, principalmente, o roteirista Conan O'Brien saiu do show, e o produtor executivo que assumiu disse numa entrevista da época que nunca tinha assistido os Simpsons. Tiro no pé proposital, já que dizem as más línguas que o tonto foi colocado pelo Rupert Murdoch para levar o desenho para caminhos mais conservadores e benignos. O resultado está aí: um filme caro, visualmente deslumbrante, cheio de ação (sempre um péssimo sinal), mas que, para os verdadeiros fãs, jamais passa perto de reproduzir a magia da era dourada do desenho. Agora, é torcer para que a primeira fala de Meg na história do show, dita nos créditos do filme, não se concretize: "Sequência".

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