segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O que eu aprendi com a MTV

Quem mandou eu assistir MTV, afinal de contas? Depois fico reclamando, e sem razão, já que a culpa é minha mesmo. Porque, por exemplo, não bastasse assistir, ainda por cima dou ouvidos às recomendações da "casa". Sabe, aquelas vinculadas em vinhetas, durante os comerciais. Bem feito, filisteu.

A última que me aprontaram, quer dizer, que me aprontei a mim mesmo, foi a de uns finlandeses (?), chamados Husky Rescue. Tipo, estava um dia de boa na frente da TV e apareceu a carinha anêmica da vocalista num vestidinho de renda barato. Como eu tenho uma queda por vozinhas doces e melodiosas nos vocais, fui na deles. Dei uma conferida e, pra encurtar a história, era uma droga.

Quase 8 minutos para fazer o download completo de umas duas musiquinhas. E do HD para o mp3 player. Haja trabalho, e pra nada. O mal só não foi maior porque agora o transformo em bem, aqui, pra vocês. Como? Pois não é que consegui, a partir dessa frustrante experiência (ai, ai), chegar a mais uma das minhas eficientes e práticas classificações, que hão de nos orientar nesse terreno escorregadio e sutilíssimo do certo e errado na música? Bom, creio que deva ser dito, com todas as palavras e sem rodeios, que, afinal, existe música boa e ruim, e que correspondem, respectivamente, a duas, e somente duas, categorias:

1) aquela que dá pra ouvir quando a gente está sem fazer nada; que depois, até leva a gente a se trancar no quarto, quietinho, sem ninguém pra perturbar; e que, enfim, transforma a música numa experiência ritualística. Por sinal, hoje em dia a gente ouve tanta música ruim porque já não sabe ouvir música. Quer dizer, eu, por exemplo, quase só ouço música indo pro trabalho ou voltando da faculdade, tudo no busão. Ou seja, bem coisa de proletário. E, convenhamos, se música é arte, ouvir música, e direitinho, é necessariamente aristocrático: quer dizer, é um luxo e exige um momento OCIOSO especialmente reservado pra isso. Não essas acomodações, esse superaproveitamento do tempo, bem benjaminiano, que faz da música trilha sonora de busão lotado. E dá-lhe R&B.
2) e aquela que só dá pra ouvir se você estiver fazendo alguma outra coisa além de ouvir música. Vulgo trilha sonora. (Nota: há trilhas sonoras que transcendem essa triste condição de permanente complementariedade de uma atividade mais importante. Exemplos? Não lembro de nenhum agora.) O advento do walkman foi, aliás, fundamental pro estabelecimento definitivo desse tipo de música. Reflexo dos dias apressados que vivemos e da subseqüente incapacidade crescente de se concentrar em algo, da fragmentariedade do conhecimento nessa era da informação. Vixe, quando a gente começa a falar assim, tem que tomar cuidado, que os teóricos da comunicação começam a se ajuntar em volta da perna da gente, que nem cachorro querendo comida. Exemplos: U2, que, como costuma dizer o Camarada Progressista, é especialista em música pra se ouvir enquanto a gente lava louça; essa turminha do Husky Rescue, cantando as vantagens do campo sobre a cidade, bem caipiras assim; e música de balada em geral, né, minha gente?

Um comentário:

  1. o mais legal é quando tu ouve uma música do tipo número 1, dentro bus, e consegue se esquecer que está no bus!!!
    isso, é claro, quando se senta na janela....

    a melhor hora pra se ouvir música ante de dormir, com as luzes apagadas... e olho fechado, claro!

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