segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Audrey Hepburn e as botas-plataforma

O que vem abaixo é repetitivo? É. É uma louvação pouquíssimo original, acompanhada de uma altercação desnecessária e pedante? Sim. E eu estou ligando?

Audrey Hepburn me inspirou a escrever contra todas vocês, mulheres. Mas o meu ser contrário a vocês não é nocivo ou ressentido, em absoluto. Se me levanto... não, infeliz esta expressão. Deixem que eu reformule: se me oponho a vocês - e muito benignamente, por favor -, é porque amo tanto vocês, que não posso negligenciar que há no mundo alguém ou Algo como Audrey Hepburn.

É muito que lhes solicite que se coloquem em meu lugar quando as vejo pela rua, calçando essas botas e sapatos horrorosos, com plataformas que me fazem pensar que vocês escaparam de um bando de mafiosos que, agora há pouco, as haviam levado pra dar um mergulho? Podem imaginar o que é, para alguém como eu - que tem as mulheres num patamar elevadíssimo (por causa de mamãe, se querem saber) -, vê-las por aí andando como o Herman Monstro? E olha que a maioria de vocês, mesmo antes do advento dessas coisas, já não sabia andar, não como mulheres, não como Audrey Hepburn.

Falando assim, pareço o Clodovil. Ah, e como nesses tempos é fácil confundir um homem simples como eu, um homem de antigamente, que ainda corteja as mulheres, sim, que ainda pratica essa refinada e infelizmente extinta forma que antecedeu o xaveco, que é o cortejo; pois, como é fácil confundir tal homem com o Clodovil. E, no entanto, Clodovil é cheio de grosserias e ressentimentos; mas eu, eu sou um grande apaixonado por vocês, por todas vocês, mesmo havendo por aí quem diga que quem ama todas, não ama nenhuma.

Eu, que vivo para lamentar o agora em nome de saudosismos e nostalgias inopinadas, e aquilo que é em nome do que deveria ser. Ah, e como eu sei de como as coisas deveriam ser, mas não são. Eu, que só sei de ideais, no entanto, apelo a alguém que, enfim, não era um ideal, não originalmente. Mas que veio a se fazer ideal: e os melhores, os mais duradouros, os mais reais são os ideais que se impõem com esforço e trabalho. Acho mesmo que os outros, aqueles que supostamente se apresentariam sem obstáculos ou resistências, são imediatamente esquecidos. Daí que os que aí estão entre nós, com história e tudo, a comporem uma certa tradição qualquer, são apenas os que progressiva e vagarosamente foram assimilados e aceitos como ideais. Pois Audrey não era alta e magra demais para fazer carreira num tempo em que as baixinhas curvilíneas é que pautavam o gosto? Mas Audrey era mais que pernas e quadril. Audrey era uma mulher. E qual o sentido desse desavergonhadamente requentado truísmo? Ora, minhas senhoras, pensem vocês mesmas e se dêem uma resposta que exclua o andar de pata e o passo do elefantinho. É, eu tentei, mas reconheço: foi Clodovil, definitivamente Clodovil.

2 comentários:

  1. eu adoro a audrey! e vou concordar com vc clodo... quer dizer, camarada! as botas plataforma estão muito over!!!!!!
    se ainda fossem bem feitas, eu até gostaria, mas aqueles desenhos, e imitações de madeiras grotescas,.. blergh!

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  2. Você realmente me surpreende, camarada fundamentalista.
    Além do gosto refinado e da inteligência, há o bom senso, o raro bom senso, qualidade em extinção mesmo entre os inteligentes de gosto refinado.
    Lucidez que se exprime, por exemplo, nisto:
    "Mas que veio a se fazer ideal: e os melhores, os mais duradouros, os mais reais são os ideais que se impõem com esforço e trabalho. Acho mesmo que os outros, aqueles que supostamente se apresentariam sem obstáculos ou resistências, são imediatamente esquecidos. Daí que os que aí estão entre nós, com história e tudo, a comporem uma certa tradição qualquer, são apenas os que progressiva e vagarosamente foram assimilados e aceitos como ideais."
    Beijos,
    PS: queria ter o dom da ironia.

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