quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Grandes momentos de Steve Buscemi: Con Air

Jerry Bruckenheimer vem proporcionando diversos atentados ao mundo do cinema desde que obteve seu primeiro êxito como produtor, com o horrendo filme Gigolô Americano em 1980. Atentados inclassificáveis, como Flashdance, Um Tira da Pesada, Dias de Trovão, Bad Boys 1 e 2, 60 Segundos, Armageddon, Pearl Harbor, Coyote Ugly, Canguru Jack, e aquele que é ao mesmo tempo o filme mais famoso de todos os tempos (é impossível ninguém conhecer) e um dos piores filmes de todos os tempos também, o inacreditável Top Gun, que lançou o Tom Cruise ao status de super-hiper-mega astro hollywoodiano. Nos anos 90 imortalizou uma parceria que teve como objetivo principal destruir o cinema moderno, com o açougueiro travestido de diretor Michael Bay. Um dos únicos filmes produzidos pelo sujeito nos anos 90 que não contaram com Bay na direção foi o filme Con Air, de 1997, dirigido pelo fraquíssimo Simon West, diretor do primeiro Tomb Raider. E é desse filme que falarei um pouco.Mega produção lançada no auge dos filmes de ação da década de 90, que trocaram o estilão "um maluco contra todos" que dominou a década anterior por produções infladas de astros e cheias de explosões e destruições garantidas por modernos efeitos especiais e sonoros.

Para protagonizar o filme, Bruckenheimer escolheu Nicolas Cage, na época com um Oscar nas costas por conta do filme Despedida em Las Vegas. Interpretando o personagem principal, um prisioneiro acusado injustamente que enxerga numa transferência mal sucedida de presos a oportunidade de escapar e provar sua inocência. Sim, é um roteiro que soa clichê até não poder mais, mas acreditem, a execução torna tudo ainda mais ridículo. No elenco coadjuvante, colocaram atores de calibre, nomes como John Malkovich, John Cusack, Ving Rhames e... sim, ele, Steve Buscemi, mas logo chegaremos nele.

A atuação de Nicolas Cage é indescritível. A pior atuação de um ator detentor de um Oscar na história. Nem a Halle Berry no Mulher Gato chegou perto. Exagero? De jeito nenhum. O melhor momento é quando Cage tem de dizer uma fala elementar no meio do filme, "Put the bunny back in the box", para outro prisioneiro. A maneira que Cage profere essas palavras chega a nos fazer duvidar se ele estava brincando quando trabalhou nesse filme, se ele estava tirando uma com a cara dos espectadores. Uma coisa dessas não poderia ser verdade. Mas aí, nos lembramos do currículo de Cage depois desse filme, com diversas colaborações com o duo Bruckenheimer/Bay e incontáveis filmes de ação, para vermos que não era brincadeira, era a triste realidade mesmo. Nicolas Cage só funciona quando tem um diretor talentoso o bastante para cortar as suas tendências caricatas.

Quanto aos coadjuvantes, vejamos as atuações de Malkovich e Cusack. Malkovich sempre foi um pau pra toda obra em Hollywood, e não parece constrangido ao interpretar o caricato vilão do filme, um insano bandido que lidera a rebelião dos presos, pelo contrário, parece estar se divertindo a valer. Mas nada faz além de constranger ainda mais o telespectador, já que Malkovich é um ator dado a exageros e incapaz de interpretar tipos que fujam ao esterótipo "vilão psicopata". Já John Cusack, na única vez que participou de um filme blockbuster na carreira, não tenta nem um pouco disfarçar a má vontade. É sério, tem horas no filme que só faltou ele pendurar uma placa no pescoço escrita "vou encher de porrada a cara do meu agente". Hilário ver a sua cara de tédio e incredulidade frente ao material ridículo que teve de representar. Reamente, triste ver um ator talentoso como ele participando de tamanha estultice, mas ele poderia ter saído dessa com dignidade. Se tivesse seguido o exemplo do homem, do mito, da lenda, que descreverei a seguir, nas seguintes palavras:

Passavam-se 60 minutos da projeção, mais da metade do "filme". Explosões, gritarias, diálogos de fazer corar, reviravoltas absurdas, caretas excruciantes do Nicolas Cage, tudo já tinha sido tentado para levar o filme para frente. Quando a tortura parecia não ter fim e a única sáida seria o suicídio dos espectadores, quando o Framboesa de Ouro já conhecia o seu potencial vencedor, quando a obra-prima de Ed Wood Plano Nove do Espaço Sideral estava prestes a perder a honraria de pior filme da história, eis que aparece, como um assassino pedófilo envolvido numa camisa de força com uma máscara a la Hannibal Lecter, ele, Steve Buscemi. A aparição é hilária. Esperamos um monstro surgir na nossa frente, saindo da grotesca camisa de força, e quem surge é o diminuto Buscemi. A partir desse momento, sem exagero algum de minha parte, o filme inacreditavelmente pega no breu. Buscemi incendiou a tela, como eu poucas vezes vi um ator fazer num filme tão ruim como esse. Todos em sua volta, Cage, Malkovich, Rhames, até mesmo o constrangido John Cusack, todos são contagiados pelo poder trazido pela simples presença de Steve.

Logo testemunhamos um momento maravilhoso, quando todos os bandidos dançam no avião sequestrado ao som da música Sweet Home Alabama, do grupo Lynyrd Skynyrd, e o personagem de Buscemi vira para Cage e diz: "Defina ironia: um bando de idiotas dançando dentro de um avião com uma música feita por uma banda famosa por ter morrido num acidente de avião". SENSACIONAL. Todo o sarcasmo dilacerante e a total indiferença de Buscemi, cultivados em milhares de pérolas de baixo orçamento do cinema underground, levado para dentro de um blockbuster Bruckenheimeriano. Não poderia dar errado. Aqueles sessenta minutos finais com Buscemi fizeram o filme Con Air parecer ser muito melhor do que realmente é, característica inerente aos grandes atores, capazes de tirar leite de pedra. Mas tudo isso teria ficado para trás se Bruckenheimer não tivesse dado essa jogada de gênio, escalando-o no filme. Não é a toa que o cara tem alguns bilhões de dólares na conta e eu sou um pobre estudante blogueiro. Depois Buscemi faria mais alguns milagres em produções horrendas como Armageddon, O Paizão e A Ilha, mas o mainstream descobriu o salva-vidas perfeito aqui nessa produção milionária e patética. Não importa o quão ruim seja o filme que você produza, o quão inverossímil, absurda, barulhenta, revoltante, burra e estereotipada seja a sua película; é só colocar o Buscemi pra falar algumas frases e contar os milhões que entrarão na sua conta.

2 comentários:

  1. nos filmes, sempre existiu o personagem pra fazer o comic relieaf... com o steve uma nova categoria se iniciou, a do psycho relieaf, hahahahahaha...

    ResponderExcluir
  2. Eh por tudo isso que Holywood é uma industria tão poderosa.
    Não d''a para viver sem pipoca e filmes feitos para vender.
    Noir é bom e eu gosto... Mas um comercialzinho não mata ninguém.

    ResponderExcluir