quinta-feira, 12 de julho de 2007

"Conhece-te a ti mesmo" com o Camarada Fundamentalista

De volta às minhas classificações totalmente reducionistas e arbitrárias, mas, por isso mesmo, eficientes e incrivelmente práticas, todas as 6 bilhões de pessoas que vivem sobre a face da Terra se reduzem a três, e somente três, tipos de indivíduo, a saber:

1) Aquele para quem o problema está no mundo, e não nele.

2) Aquele para quem o problema está nele, e não no mundo.

3) Aquele que nunca pensou no assunto.

Para a minha breve, brevíssima exposição, tomarei como base esse que é o livro de todos os (metidos a) chatos e críticos da humanidade, e de todos os que não encontraram seu lugar no mundo e essa ladainha toda: O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger. Por sinal, sempre que eu não tiver o que dizer, vou dar uma de Mark Chapman e pregar um pouco sobre o Apanhador.

Ora, o primeiro grupo é o dos chatos, dos cricris. Eu me incluo entre eles. Essas pessoas lêem O Apanhador no Campo de Centeio e pensam: “É, esse Holden Caufield tem razão: o mundo está cheio de imbecis”. É claro que esse grupo se subdivide entre aqueles que aborrecem as pessoas porque, na verdade, esperam demais delas e, portanto, no fundo, no fundo, querem mesmo é ser amigos de todo o mundo, e aqueles que aborrecem as pessoas simplesmente porque as desprezam. Esses últimos são raros, e nem mesmo sei se existem. Ambos os subgrupos, de qualquer forma, têm a mesma e única característica: meter o pau em tudo e em todos.

O segundo grupo é o dos sensíveis, dos bundões. “Se ao menos eu pudesse ser mais aberto, mais divertido; se eu relaxasse, mudasse um pouco, acho que as coisas seriam melhores, e as pessoas gostariam mais de mim.” – note que os infelizes nem mesmo citam o livro, ainda que estejam partindo de sua leitura pra entrar (de novo) numa crise que eu gosto de chamar de Crise da Culpa Universal. Aliás, qualquer coisa é motivo pra essa gente se afundar nessa conversinha. E senta, que lá vem história. Como diria o Camarada Progressista que, vejam só, se insere nesse grupo, ainda que disfarce muito bem por aqui: fuja!

E, finalmente, o terceiro e último grupo, que é o dos inconseqüentes, dos burros, dos bocós, dos cabeças ocas, e por aí vai. Para eles simplesmente não há problema algum. Em geral, você encontra essa gente olhando para o nada, com a boca aberta, babando. Alguns agitam nervosamente a cabeça e os braços quando te encontram, e gritam, gritam muito. São efusivos, felizes, dançantes, saltitantes. Outros, mais calculados, se contêm e disfarçam. Até se fazem passar por gente preocupada, ética, espiritual. Mas basta você conversar – ou melhor, tentar, pois com os tais descobre-se que o diálogo é uma prática bem mais fina e complexa do que em geral se pensa –, para ver que o infeliz nem está ouvindo o que você diz. Ora, eis aí uma coisinha nem um pouco ética, que, portanto, tampouco denota espiritualidade, já que esta – espera-se – diz respeito, em algum sentido, ao outro, seja lá o que ou quem seja esse outro. Esses, se pegam pra ler o Apanhador, depois de quatro, cinco páginas, já dizem: “Ai, que chato esse cara (Holden), fica reclamando de tudo: ele é muito crítico!”, como se ser crítico fosse um defeito. Seja ou não no sentido de “chato”. Mas é claro que eu falo como um membro do primeiro grupo, me desculpem. Ou melhor, como meu adolescente chato interior, pertencente ao primeiro grupo.

Essa classificação é parte de meus esforços para apresentar soluções alternativas viáveis de autoconhecimento para aqueles que até hoje o têm buscado no zodíaco e fontes afins.

4 comentários:

  1. Bom, primeiro o texto diz que o livro é "de todos os (metidos a) chatos e críticos da humanidade" e depois critica quem não gosta dele.Se o livro é para chatos, claro que os não-chatos não vão gostar, oras!Chata ou não, faço parte dos que não gostaram do livro.Esse Holden fica procurando pêlo em ovo...se fosse hoje em dia, no Brasil, ele ia fugir da escola e fazer malabares no semáforo, que é o destino de todos aqueles rebeldes sem causa, que lutam contra o sistema e lálálálá...

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  4. Leio seu blog há poucos dias, principalmente por admirar o cinema (joguei no google), e me chamou muito a atenção o estilo com o qual escreve(m). É Salinger total, até se entregando com a capa dos Tenembauns - que diretamente ligaram ao Salinger. E isso não é uma crítica, é um elogio. Seus livros são tremendos.

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