sexta-feira, 20 de abril de 2007

BBB - uma ode à Grande Irmã

"Alguém me traz um cigarro aí?"
O Big Brother Brasil 7 foi um inesperado sucesso, devido ao esgotamento que o programa tinha mostrado na sua edição anterior. Todo esse sucesso de audiência e repercussão deve-se ao trabalho brilhante de maniqueísmo novelístico perpetuado pelos editores do programa.

Todos assistimos a consagração de Diego Alemão, dublê de programador, galinha e pornochanchada ambulante, um ser estúpido, arrogante, grosseirão e criador do triangulo amoroso mais tosco da TV brasileira. E também assistimos a criação mais espetacular dos habilidosos editores globais: a transformação do pacato e simplório Alberto "Cowboy" na personificação viva do mal, terceira encarnação do anti-cristo e estrategista impiedoso. Uma façanha, um trabalho digno de Guiness Book, transformaram todo a arrogancia do Alemão em "confiança", criaram para o rapaz uma imagem de como deveria ser o homem contemporãneo e jogaram para o Cowboy toda a culpa por todas os problemas da humanidade. Uma palhaçada completa.

Mas, alheia a tudo isso, existia uma luz de razão e verdade no meio de tanta bobagem. Analy, curitibana de 30 anos de idade. A mais velha do confinamento. Uma garota de voz um tanto quanto singular. De gestos sutis, explanações lentas, suaves e vigorosas, de uma discrição raramente vista num programa onde exibir-se é a alma do negócio. Fumando sempre que nem uma chaminé, emendando um cigarro no outro, desancando os rivais com um cinismo incontrolável e furioso em suas palavras, nunca nas ações. Uma cabeça fria e pensante no meio de tantos bufões incontroláveis. Sempre firme nos seus atos, deu um fora monumental no pobre jornalista-wannabe pernambucano Alan Pierre. Foi a única mulher da casa a jamais bandear para o lado do Diego Alemão, jamais se impressionando com a popularidade crescente do rapaz, sem fazer concessões para se fazer de boazinha para a patuléia., ao contrário da vice-campeã e inócua participante Caroline, que mesmo depois de ouvir do Alemão que "teria as roupas íntimas arrancadas a força" como resposta a uma brincadeira feita contra ele, ainda teve a cara de pau de defender o mesmo no final. Caroline, por sinal, que mesmo sendo a melhor amiga da Analy no confinamento, era sempre motivo de tédio e cortadas impagáveis da mesma.

Ai, veio aquele que entrará para a história como um dos momentos mais desconcertantes já vistos na TV brasileira. Na 7 semana do programa, o líder foi o Alberto Cowboy. Todos então temeram um possível paredão entre Diego Alemão e a Íris, casal favorito para o público do programa. Seria terrível se, a um mes e meio do fim do programa, um deles saísse. Então, numa prova do Anjo estranhíssima, a Íris ganhou o colar. Todos suspiraram aliviados. O Alemão estaria salvo, sendo imunizado por ela, e Íris ganharia de qualquer outro participante de qualquer maneira. Havia um porém. Nessa edição, foi introduzida a possibilidade de veto a indicação do anjo. Nas 6 semanas anteriores, os escolhidos nunca fizeram uso desse direito. Mesmo quando desafetos poderiam vetar imunidade para o outro, não o fizeram, já que temiam a reação do público perante essa descortesia. Alberto Cowboy sorteou, e no papel pego por ele, o nome era o dela, Analy. Então, Pedro Bial, dissimulado apresentador, perguntou a Íris quem ela queria imunizar, e a mala sem alça, como não poderia deixar de ser, escolheu o Alemão. Corte para o Bial. Então, ele se dirige a Analy. Pergunta se ela faria uso do poder de veto. Perguntou rapidamente, atropelando as palavras, já que nunca ninguém tinha feito uso do mesmo, então nem valeria a pena perder muito tempo com isso. Mas não. A camera fechou nela. Então, aconteceu.

Com um sorriso de orelha a orelha, todos os dentes a mostra, com um cinismo indisfarçavel, como se fosse a coisa mais natural do mundo, Analy disse que sim, vetava a indicação de Íris. Diego Alemão não mais estava imunizado, estava nu, como o mais desbaratinado dos reis. Corte para o casal, corte para Bial, suando, tremendo, tropeçando nas palavras, como se tivesse ouvido o anúncio da morte de alguém querido, ainda repetiu a pergunta, para ouvir as palavras proibidas: "Sim, eu veto". Como que sentindo a trágédia se aproximando, virou-se para o Cowboy e rudemente pediu a indicação do mesmo, que votou na Íris, e na justificativa ainda foi bruscamente interrompido por Bial, que já não escondia mais o nervosismo. Nos votos da casa, Diego foi emparedado, e disse que ia "acabar com essa palhaçada", olhando para Analy. Mas ela, impassível, classuda, manteve o belo sorriso, de quem sabia que tinha devolvido as coisas aos seus devidos lugares. Deu a dose de cinismo e sarcasmo que aquele circo global merecia. Resultado: Íris eliminada, Alemão sozinho por um mes e meio, e Analy marginalizada pela edição do programa, pelo público e pelo Pedro Bial até sair, numa honrosa 4 colocação, eliminada pela aprendiz de bibelô Caroline.
Mas ela não estava sozinha. Que tenha sido feita ajustiça nessas horríveis linhas.
Afinal, todos nós deveríamos ter amado a Grande Irmã.

2 comentários:

  1. Que texto inteligete, que palavras sábias...parabéns...isso mostra quem nem todos foram manipulados pelo circo global!

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  2. post delicioso, estou lendo no trabalho e controlando minhas escandalosas risadas
    dou nota dez
    não vi o programa, mas não gosto da Iris e odeio ainda mais essa palhaçada em torno desse brilhante casalzinho. Camarada Progressista, vc deveria fazer um post sobre a preparação da noite de nupcias da Iris com o Alemão, topas?
    receba minha profunda e sincera admiração.

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