terça-feira, 17 de abril de 2007

Como fazer um filme cult

Como fazer um filme cult? Essa é fácil. Tem receita e tudo. Vou até passá-la pra vocês. Só que tenho que fazer uma coisa, que é avisar que a receita vale especificamente pra nossa geração, pra contemporaneidade, e contemporaneidade de, no máximo, uns dez anos pra cá. Beleza, gente? Firmeza, então.
Bom, pra começar, são várias as dicas, e se podem adotar aquelas que você quiser. Acho mesmo que, se colocar todas juntas, pode sair uma obra-prima insuperável do nicho. As comunidades do Orkut dedicadas ao seu filme podem estourar a casa dos 10.000. Imagina. Quem sabe, até concorrer com a do Requiem for a dream ou do Trainspotting. Tem de sonhar grande.

Primeira dica: faça enquadramentos classudos; bote a câmera em ângulos inusitados, amarre-a no corpo dos atores, sacuda-a bastante. É importante também cuidar da cromática. Seja bem evidente, isto é, deixe bem claro para o espectador que você está brincando com as cores do filme de propósito, tipo, "ei, está vendo este azul, quer dizer que o personagem está triste; e este vermelho quer dizer que ele vai descer a porrada em todo o mundo".

Segunda dica: escreva diálogos bem cuidados, espertinhos. Se você não tiver muito talento na escrita e não quiser passar a tarefa pra outro, afinal, se trata de fazer um cinema autoral, e não tem que nenhum maluco vir meter o dedo na tua obra, reduza ao mínimo a interação verbal. O efeito pode ser até maior. As personagens caladas, olhando-se sem dizer nada. Pode render um filme climático. E, vocês sabem, filme climático é classudo pra caramba. E isso já adianta o passo seguinte, o da escolha temática.

Terceira dica: na escolha temática, que envolve sua postura como artista, você tem duas opções: ou chocar, ou falar sobre a dificuldade de comunicação. E chocar é justamente o contrário desta última: uma afirmação do poder de comunicar algo. É enfiar na cara de alguém que isso é isso, assim mesmo, desse jeito que você tá dizendo que é. Quem choca sempre é ousado, ainda que tenha muito sociólogo chato, disfarçado de crítico, pra relativizar a eloqüencia de uma boa cena de sacanagem ou de um filho estourando a cabeça da mãe com um martelo. Quanto a quem for optar por rodar um filme sobre a dificuldade de comunicação, de se fazer entender, é só adotar a dica da supressão de falas logo acima e filmar algo climático.

Olha, e eu paro por aqui, não quero entregar o ouro de uma vez só. E também não quero me alongar. Isso é só o começo. Nem falei de atores, de atuações e de personagens. Deixo pra depois. Sussa.

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