Antes de começarmos a nos aprofundar mais na vasta obra cinematográfica e musical deixada pela Ms. Lohan (embora ela NÃO esteja morta ainda), deixe-me contar uma pequena história aqui pra vocês. Deixe-me contar de uma noite de sexta feira em especial. Na época, eu fazia uma outra faculdade, diferente da que faço agora e que eu sai depois de alguns meses cursando. Tinha tido uma prova no dia, e naquela faculdade, dias de prova eram mais curtos que os habituais: era chegar, fazer a mesma e se mandar. Eu fiz isso. Cheguei, fiz a prova e me mandei. Não era na época homem de artifícios desnecessários, como ficar com os meus colegas recém-saídos de um episódio da Malhação comentando sobre a prova e projetando expectativas sobre as baladas que viriam depois. Não. Fiz os meus deveres e, mais rápido do que cheguei, logo fui embora. Estava na época louco para ver um filme que tinha estreiado nessa mesma sexta e que, por um lamento do destino, me esqueci totalmente o nome (devia ser um filme muito importante mesmo). Peguei o busão, o lendário Aeroporto, e fui para um shopping o qual não falarei o nome, mas que parece uma caixa de Panetone e fica em cima de uma grande estação de Metrô. Esbaforido pelas péssimas condições da viagem (número excessivo de passageiros, trânsito lento), cheguei no mesmo e fui me arrastando até o último andar, local das salas de cinema. A última sessão do filme que eu iria ver estava esgotada. Sold out. Estando em péssimas condições físicas e psicológicas, a primeira reação a tomar seria colocar a viola no saco e ir para casa.
Mas não. Senti uma sensação inexplicável. Como Ulisses na Odisséia quando ouve o canto das Ninfas (comparação ABSOLUTAMENTE PERTINENTE), algo mantinha-me hipnotizado, estático, preso no lugar, imune aos chamados do meu corpo dilacerado. Olhei para a tela dos horários dos filmes. Sexta-Feira Muito Louca, 21:30. Dez minutos eram antes desse horário. Nunca tinha ouvido falar do mesmo. Mas isso não mais importava. Comprei o ingresso. Não tinha qualquer controle sobre os meus atos. Fui para a direção das salas. Chegando ao local, péssima notícia: a sala do filme era uma sala especial do Shopping, para crianças, de uma famosíssima companhia cujo garoto propaganda é um rato chato. A sala tinha cadeira coloridas, aromas artificalizados, desenhos de personagens, enfim, um embaraço COMPLETO para um jovem universitário problemático como eu. Mas nada disso fazia qualquer diferença. Como um zumbi num filme de George Romero, adentrei o recinto, e instalei-me em poltronas num lugar no fundo. A sala não estava cheia. Muitos adolescentes, pais com filhos pequenos berrando insuportavelmente, barulhinhos engraçadinhos da sonoplastia da sala. Fechei os olhos fingindo dormir para que, na hora que o filme começasse e as luzes se apagassem, eu pudesse abri-los de novo, evitando assim contato visual com aquela experiência patética. Logo, as luzes se apagaram e o filme começou. Uma comédia adolescente-romântica, que depois descobri ser um remake de um filme dos anos 70. Jamie Lee Curtis, fazendo um dos papéis principais. Nada promissor, mesmo, afinal essa mulher deu ao mundo apenas gritos e gritos e gritos nos duzentos Halloweens dos quais participou. A tortura não parecia ter fim.
Logo, o filme apresentou a outra personagem principal, filha da Jamie Lee que depois, por coisas que só podem acontecer num filme Hollywoodiano, trocaria de lugar com a Mãe. Era uma menina de traços não usuais, mas de beleza e expressividade sinuantes. Tinha ouvido falar dela antes, sabia que era uma daquelas atrizes mirins que infestavam o mundo pós-Backstreet Boys (que na época, pena, tinham morrido num desastre de trem). Mas, como nas melhores surpresas da vida, percebi que aquela não era mais uma entre tantas inexpressivas e marqueteiras estrelas. Não. Vi ali uma classe tão estonteante que conseguia destoar num filme tão pudicamente inexpressivo como aquele. Salvando todas as cenas que participava e deixando um ar de lamento quando se ausentava na tela, aquela garota pegou o filmeco protagonizado por uma decadente veterana do circo e transformou-o em algo mais, talento comum para aqueles que realmente podem fazer a diferença. Vi ali um talento bruto, não lapidado, natural e sem traços transgênicos, uma verdadeira tour-de-forcé sem igual nem entre as atrizes de patamar Oscariano da época. Depois, descobri finalmente o nome da menina: Lindsay Lohan. Até chegar nesse atual patamar de escândalos, lama e bebedeiras homéricas, esperei que tudo aquilo que presenciei naquela estranha noite pudesse se tornar realidade. Vieram espasmos de brilhantismos depois, mas sei que ainda não foi nada, que o melhor, overdoses a parte, ainda está por vir. Espero, firmemente, por tudo o que essa garota ainda pode fazer. Exagerado? Talvez. Mas NUNCA erro, põ! A, um adendo: no filme original da década de 70, quem fez o papel que foi da Lindsay no remake foi uma certa atriz aí, que dizem ter talento, uma tal de Jodie Foster...só pra lembrar.
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