domingo, 3 de junho de 2007

Escola peripatética de cinematografia

Como adoro simplicações, e nisso até pareço o próprio Aristóteles, com suas classificações maravilhosas, aí vai uma sobre cinema. Existem dois tipos de filme, e somente dois:

O representante do primeiro tipo é Kill Bill, os dois volumes, que você vê e fica achando que Tarantino é gênio. É aquele filme que te fascina a princípio; na verdade, te ofusca, e você esquece todo o resto, todas as suas preferências anteriores e, principalmente, os seus referenciais. Não é à toa que você quer comprar a caixa Deluxe com os dois filmes, quer ler o roteiro original em inglês, e fala que é o seu filme favorito de todos os tempos, e entra na comunidade do Orkut do filme, e fica fazendo alusões ao filme em textos de blog.

Só que isso passa. Depois de assistir quinze vezes a cada um dos volumes e, só então, deixar os discos esfriarem alguns meses na caixinha legal em que vieram, você, um dia, topa com uma reprise deles na HBO ou na Globo mesmo e aí cai na real, e percebe que não era tudo isso. Que era um filme bacana, e só. Mas agora é tarde. A edição Deluxe tá comprada.

Já para o segundo tipo, e agora deixa eu esfregar toda a minha sofisticação na cara de vocês, me vêm os seguintes nomes, que serão recorrentes neste Mês Lindsay Lohan (por razões heterogêneas): La Dolce Vita e A Prairie Home Companion. Filmes incrivelmente distintos que, no entanto, coincidem no fato de que a gente precisa aprender a assistir aos dois.

São daqueles que, da primeira vez, você, terminada a sessão, fica sem o que dizer - no fundo, de alguma forma, você sabe que acabou de ver um ótimo filme, talvez uma obra-prima, mas está confuso demais, foi incapaz de absorver tudo. E é exatamente essa a questão. Nesse segundo tipo se encaixam os filmes que a gente nunca absorve da primeira vez, nem da segunda, nem da terceira. Na verdade, a gente passa a vida inteira assistindo e assistindo a eles e sempre vai descobrindo uma nova razão para por que são tão bons, sem nunca se cansar.

Se a gente, com o nosso machismo benigno - e sofisticado -, emprega essa mesma classificação para as mulheres, logo vê que a senhorita Lohan é do segundo grupo: é em geral necessária uma segunda olhada pra sacar o encanto dela, mas depois... Depois, a gente até apela, e vai ao cinema assistir Herbie - Meu Fusca Turbinado e Sorte no Amor, só por causa dela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário