quarta-feira, 20 de junho de 2007

Mês Lindsay Lohan: Resenha do Disco "A Little More Personal (Raw)"

Não tinha jeito. Nós, ambiciosos e ousados blogueiros, quando decidimos dedicar um mês temático para a Lindsay Lohan, sabíamos que, cedo ou tarde, deveríamos tratar do ponto mais delicado e controverso da carreira da junkie girl: a parte musical da história. Lindsay lançou dois discos, separados pelo espaço de um ano apenas. Em 2004, lançou Speak, um disco vagabundo feito com o propósito de testar a recepção da mídia e fãs para uma possível carreira musical de Lohan, com faixas produzidas a toque de caixa e sem o menor preparo que fosse adequado a um lançamento desse. A verdadeira estréia de Lindsay veio menos de um ano depois, com esse disco entitulado "A Little More Personal (Raw)". Ela deu entrevistas antes do disco dizendo que queria participar ativamente de toda a produção, escrevendo letras e produzindo faixas inclusive, o que acabou acontecendo, já que das 12 músicas, Lindsay co-escreveu 8, restando duas covers e apenas duas músicas não escritas por ela. Uma verdadeira façanha para uma atriz de 19 anos de idade sem qualquer experiência. Principalmente se lembrarmos que a cantora de maior sucesso da nova geração das princesinhas da Disney, Britney Spears, foi somente tentar escrever alguma coisa no seu quarto disco, e esse é o ganha pão dela, já que como atriz ela é uma excelente interna de hospício.
Louvável! Sim, já sei o que vocês estão pensando, que quando cantoras jovens tentam escrever letras e melodias sempre acaba dando desastre, vide as Kelly Clarksons da vida. E nesse caso, chegou perto disso. O disco falha em diversos sentidos. As duas covers, uma do Cheap Trick (acredite se quiser), I Want You To Want Me, e a outra da Stevie Nicks, Edge of Seventeen, são artificiais e totalmente desprovidas de vida e propósito. A voz dela, mesmo com o Pro Tools, soa muitas vezes fora de tom e longe de qualquer tipo de técnica vocal mais desenvolvida. Agora, vamos ao material escrito por Lohan. Expectativa. Tensão. Olhares tortos. O que será que ele vai dizer?

Bom, o que vocês poderiam esperar? Não dá pra você tentar escrever um disco sendo primeiramente atriz, tendo 20 anos e sair fazendo letras dignas de uma Patti Smith, pô! Milagre agora? Mas, embora nada do que tenha sido escrito e composto por Lindsay seja digno de figurar numa lista de melhores da história, gostaria de propor a vocês uma fixação de ponto, em algo que salvou o disco de ser um desastre completo: o tom confessional adotado por Lindsay nas letras. Mesmo nos momentos mais maçantes, mesmo sobrecarregadas pela instrumentação padronizada que infesta os discos contemporâneos, com bases eletrônicas pré-gravadas e melodias muitas vezes paupérrimas, louvou-se, com justiça, a vontade mostrada por Lindsay de expor os seus medos e inseguranças no disco, ao invés de apelar para o caminhos mais fáceis.

Uma música em especial acaba sendo o maior acerto do disco e uma mostra de que algo mais valioso poderia ter sido tirado dessa experiência: o primeiro single e primeiro clipe, Confessions of a Broken Heart (Daughter to Father). Uma música com destacada alma e vivacidade, corajosa em todos os sentidos, ou é comum que uma estrela pop lance como primeiro single dos seus discos uma música na qual implora respostas e amor ao pai golpista e escroque? Normalmente elas lançam musiquinhas sobre amores baratos, paquerinhas tolas ou, nos piores casos, odes indiscrimados às orgias no mundo contemporâneo (essa é sua, Nelly Furtado). É comovente ouvir na música a garota, tão bajulada e adulada, chamando pelo pai de uma maneira emocionada e verdadeira, realmente passando para o ouvinte a sensação de desamparo que ela deve sentir sempre. Lindsay, como sempre fez na carreira, preferiu usar esse projeto, visto pelos seus empregadores como ferramentas para lucros infinitos, para traduzir as suas experiências de vida em música, e o resultado, embora longe de ser considerado o maior momento da música pop, mostrou mais uma vez que Lindsay Lohan é especialista em tirar algo de onde somente existiria a mediocridade, mesmo indo contra todo um sistema que padroniza artistas e coloca-os numa mesma embalagem sonora porca e limitadíssima. Por isso que consegue sempre dar dignidade aos projetos normalmente tolos que topa participar.

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