Seinfeld, a série americana mais bem sucedida de todos os tempos, terá lançada nessa sexta-feira no Brasil varonil a caixa da oitava temporada. Partindo desse fato, gostaria de falar um pouco sobre a série e sobre o efeito que ela provoca em seus admiradores e, por que não, em seus detratores também (como vocês podem ver, eu estou educadinho hoje). É muito fácil construir idéias pré-concebidas que sejam carregadas de negativismos acerca da série. Afinal, se muitas pessoas possuem verdadeira aversão por tudo aquilo que constitui o chamado American Way of Life, imagine quando falamos de uma série que justamente pervertia toda essa situação de costumes com um cinismo dilacerante. A própria natureza da série acabava dando margem para esse tipo de visão: se você tem um show que absorve uma ótica de vida na qual todas as sentimentalidades e emocionalismos baratos acabam sendo motivo de piada, é natural você provocar uma indisposição natural com aqueles que acreditam que o ser humano por si só já está impregnado com esse pessimismo e individualismo e que nada ajuda ver isso ainda jogado na sua face nua e cruamente por 4 solteirões neuróticos novaiorquinos.
Por isso, é normal encontrar pessoas que digam não suportarem o Jerry Seinfeld, não concordando de maneira alguma com os "valores" pregados na série. Mesmo nos EUA, onde os novaiorquinos são vistos como arrogantes pelo resto da nação (isso num páis cujo lema é "sou americano e posso tudo que quiser"), Seinfeld sempre esteve intrinsecamente ligado com essa visão superior e européia passada pela metrópole da Maçã.
E mesmo fatores periféricos, como o surto de ataques racistas cometidos pelo esquisitíssimo ator Michael Richards, o Kramer do show, num clube de comédia, acabam jogando contra a imagem da série. Os detratores Seinfeldianos usaram o episódio para atacar a própria imagem da série, usando de manipulações baratas para evitar separar a persona pública de Michael Richards do seu personagem, e jogando todo o contexto do show dentro das desbaratinações do ator. Tudo isso é um preço que Seinfeld e Larry David, criadores da série, sabiam que iriam acabar pagando. Afinal, é muito mais fácil quando se tem um show como Friends, que mostrava seis amigos bem sucedidos, bonitos, cobiçados vivendo num mundo artificial cujo única problemática residia na complexa questão "quem vai ficar com quem?" nos episódios, mas sempre com mensagens edificantes e finais que ressaltavam que todos aqueles seres de plástico tinham um coração escondido naquela embalagem de promiscuidade e alienação.
Seinfeld sempre escolheu ir para o lado contrário. Tirar humor da verdadeira natureza humana, da nossa mediocridade, da nossa incapacidade para lidar com as questões do cotidiano, do nosso egoísmo disfarçado em sarcasmos e ironias. As armas mais poderosas do homem moderno para lidar com o massacre ao qual somos submetidos. O Fundamentalista fez uma bela analogia ao dizer que a Lindsay Lohan deveria ter sido estrela nos anos 80. Pois Seinfeld chegou e mostrou justamente o nosso espelho no mundo pós-muro de Berlim, aonde todos os erros serão apontados e todas as culpas serão punidas. O inimigo, isso até vir Osama Bin-Laden, era interno.
Com todo esse panorama, é fácil odiar Seinfeld. Mas os detratores sabem a condição primordial para se criticar: evitar ao máximo assistir a série. Pois uma vez que você se empenha nesse empreendimento, bastam dois ou três episódios para você jogar todas as pressuposições para o alto e bater a cabeça na parede de tanto dar risada, não há como resistir por muito tempo. Tanto que, mesmo que provocando aversão na América conservadora, a série foi o maior sucesso da história por lá. Todos no final se renderam ao humor inacreditável da série. Somente podem resistir assistindo o show e ainda criticando a série aqueles obstinados, que acabam apelando para o argumento final: a suposta intelectualização da série. Mas nunca você verá alguém criticar o show pela sua proposta final, fazer as pessoas rirem. Pois nisso, nunca ninguém na humanidade, nem mesmo os bobos da corte da Idade Média, se igualaram ao Seinfeld, Kramer, Elaine e George. Yada, yada, yada.
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