Ao longo deste mês, o que fizemos, algumas vezes com sucesso, foi contextualizar Lindsay Lohan. Toda a questão era essa. Entenda-se que, por exemplo na chamada grande imprensa, imposturas e equívocos se cometem justamente por um problema de contextualização.
Lindsay Lohan é apenas um nome, um nome vazio que se pode preencher como quiser. Mas, a partir do momento em que se decide fazê-lo nome de algo, monta-se um cenário, um lugar onde colocá-lo. Para nós, foi importante lembrar que lugar é este: no caso, uma época. Que não basta recolher as manchetes publicadas com esse nome para estar ciente de quem atende por ele. Mas que os excessos associados a Lindsay Lohan se devem menos a ela do que à época em que vivemos.
Ontem, assisti a Clube da Luta. Não podia ter sido mais oportuno. Clube da Luta é exatamente o contexto que procurávamos para acomodar Lindsay Lohan. A sociedade de consumo invertida, mas ainda sociedade de consumo: massificada, com um forte espírito de rebanho. A geração fast food voltando-se contra si mesma. Isto é, uma crítica a uma revolução que apela aos mesmos vícios e fraquezas que sustentam a ordem que se quer destruir. Algo como: "isto aqui não presta, mas o que vocês têm feito pra mudar, com esses discursinhos anti-Mcdonald's, também não". O sabonete é uma bela metáfora: transformam-nos em produto e assim ganhamos a aura característica de todo produto - que é o de ser uma solução acabada, uma necessidade satisfeita. Somos consumidores daquilo que queremos ser. Inclusive, revolucionários.
Acusaram o filme de fascista. Não entenderam o cinismo, o profundo cinismo de cada cena, de cada personagem. Clube da Luta é um Seinfeld apocalíptico, dark. Clube da Luta é também sobre o nada, só que, sem a estilização que o compromisso com o humor impõe, suas personagens não estão tão conformadas com isso.
Mas a questão que introduz Lindsay nessa história toda é: e se um filho desse rebanho ascende, destacando-se do resto, isolando-se do rebanho? A quem há de seguir? Quem será seu pastor? Mais do que isso, o que lhe pregarão, se foi tornado ele mesmo pregação? Pois o que é esse filho que ascendeu? Não é um exemplo para os demais, aquilo a que devem aspirar? Portanto, a própria pregação? O evangelho custa a (auto)destruição do próprio messias. A grande falsidade nisso tudo é que o messias era como o resto, ainda que o resto (ou ele) não soubesse, mas foi vendido como ideal, como um passo à frente. Foi feito limite daquilo que podemos fazer e, principalmente, ser. Pobre Lindsay Lohan, também ela queria ser Tyler Durden?
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