Houve momentos na história do cinema que mostraram produções capazes de influir, sozinhas, em toda a indústria cinematográfica, criando escolas de linguagem, sendo precursores de estilo, tanto em termos estéticos e de efeitos como em termos narrativos e interpretativos. Falo de filmes como o Nascimento de uma Nação, clássico nojento racista de D.W. Griffiths, mas que marcou praticamente o início da linguagem do cinema e do ritmo que um filme deveria e passaria a ter depois de então; de um E O Vento Levou, trazendo os épicos pela primeira vez; de um Cidadão Kane, revolucionário em estilo e narrativa; de um Uma Rua Chamada Pecado, que marcou o início da escola de interpretação conhecida como método; de um Acossado, de Godard, que marcou o início da Nouvelle Vague; Sétimo Selo, A Doce Vida, O Poderoso Chefão, Laranja Mecânica, Blade Runner, Pulp Fiction, Matrix, Clube da Luta, todos esses filmes foram capazes de, em maior ou menor escala, causarem uma revolução no modo das pessoas encararem o cinema. Mas nunca, em toda a história, desde que os irmãos Lumière resolveram brincar de fazer câmeras, um filme serviu tão bem como retrato de uma geração como o Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004).
O filme marcou a primeira vez que Lindsay Lohan saía dos domínios da Disney para atuar pela companhia de filmes do produtor do Saturday Night Live, Lorne Michaels, e foi escrito pela ex-roteirista e atriz do programa, Tina Fey. Contava a história (tenho de ser técnico aqui, calma que é um resumo rápido, faço isso por vocês, pô!) de uma adolescente interpretada pela Lindsay (milagrosamente não chamando Lola, e sim Cady) que passou a infância com os pais na África e que vai para os EUA e entra num colégio dominado por uma turma de meninas populares chamadas garotas plásticas. Lindsay, ops, quer dizer, sua personagem, Cady, no começo é hostilizada, mas logo conquista a confiança da líder das garotas e acaba entrando no grupo, dando início a uma cadeia de eventos que resulta na dissolução do grupo. Genial, não? Complexo, inventivo, cheio de minúcias e detalhes, o filme é, sem dúvida alguma, a maior produção adolescente da história da humanidade (alguém falou no Acossado aí? Não? Abafa.).
Exagero? Não. Tina Fey mostrou que não deve nada a um François Truffaut da vida, jogando com as imagens, criando metáforas brilhantes (tá acabando a cota de adjetivos) entre o ambiente do colégio com o de uma selva africana, toda a crueldade e subjugação dos mais fracos pelos mais fortes. Um fiel retrato da futilidade que permeia o mundo adolescente do mundo contemporâneo, não só nos EUA, o que torna, indiretamente, o apelo do filme universal. Agora, a prova-mor do talento de Lindsay. A líder das garotas plásticas, papel vital na trama por ser a nêmesis da personagem de Lindsay e virtual vilã do filme, foi feito pela atriz Rachel McAdams, famosa pelo filme meloso Diário de uma Paixão. Rachel nasceu em 1976. Ou seja, é exatamente 10 anos mais velha que Lindsay Lohan, e no filme interpretou uma personagem da mesma idade com um peso fundamental na trama.
Qual conclusão tiramos disso? A de que o Lorne Michaels é um cara muito esperto. Ele sabe que se colocasse uma atriz jovem e inexperiente para contracenar com Lohan, a atriz iria tomar um baile da Lindsay e a personagem seria engolida, o que seria mortal para as ambições do filme. Então, ele tomou a polêmica decisão de escalar uma atriz muito mais velha, porém experiente. E mesmo assim, Lindsay Lohan não se diminuiu em momento algum do filme, encarando de igual para igual a Rachel McAdams. Não é a toa que o cara é o manda-chuva do SNL faz duzentos anos. Devemos reconhecer quando assistimos a história ser escrita na nossa frente. E nesse caso, digo com galhardia que Meninas Malvadas será sempre lembrado como um momento definitivo na história do cinema (tá bom, pessoal do hospício, já tô indo, podem botar a camisa-de-força).
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