André Gide dizia que a má literatura era feita dos bons sentimentos. Pois é, eis aí minha sentença. Literatura não é pra mim. Eu até fui meio teimoso, falei "que é que esse francesinho sabe de literatura, que é que ele sabe de mim? fale por ele! eu vou fazer literatura, e da boa, com o meu amor à Família, à Pátria e aos Bons Costumes!". Mas depois eu vi que não dava mesmo. Então, passei à maledicência, ou melhor, a tentá-la. Mas não consegui, descobri-me seco de veneno.
Na verdade, gente, eu sou muito certinho e muito bonzinho pra falar mal de alguém, assim, de verdade. Eu gosto das pessoas e dos bons sentimentos pelas pessoas, não tem jeito. Sou um sujeito bonachão, que enche o saco da criançada, perguntando se o molequinho já tem uma namoradinha, aí ele diz "credo!" com aquela voz fininha e saí correndo, e eu fico rindo dos miúdos, deles serem tão gaiatos! Eu gosto da felicidade, isso é que é o pior. Gosto mesmo. Até me comovo quando eu vejo todo o mundo feliz, alegre, contente, cantando e dançando. Aí, vem uma lágrima, e alguém pergunta se está tudo bem comigo. "Não podia estar melhor, amigo!" - eu respondo e abraço a pessoa. Sou um grande e incorrigível sentimental, no fim das contas.
Mas isso tudo é uma droga. Porque, pra escrever bem, você tem de fazer o tipo blasé. Ou isso, ou escrever auto-ajuda, com aquela entonação de padre Marcelo Rossi. E como alguém vai se manter blasé se não passa de um adolescente boboca, que ouve músicas de e sobre losers que vencem na vida e fica achando que, afinal, o mundo não é tão ruim assim? Ah, gente, às vezes eu paro e penso pra onde é que eu estou indo. Aqui não é o meu lugar; eu devia estar viajando pelo mundo, vendendo produtos de emagrecimento, com um sotaque bem exótico e uma roupa espalhafatosa. C'est la vie.
sábado, 5 de maio de 2007
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