domingo, 6 de maio de 2007

Fomos ao cinema ver Homem-Aranha 3

Por onde eu começo? Ai, é tanta coisa pra falar. Tenho de me concentrar. Bom, a gente foi lá ver o Cabeça-de-teia. Sábado, sessão da meia-noite, sala 1 do Bristol, com fila e tudo. Nada que lotasse aquela sala gigante, mas, para o horário, um número respeitável de pessoas. É capaz que você estava lá e nem viu a gente. Pra ordenar tanta informação, tenho de ir por tópicos, que é uma das estruturas textuais mais burras que existe. Mas fazer o quê, se até o Sam Raimi se perdeu na aventura que criou pra esse terceiro filme? Mas, desculpa, que já estou antecipando as coisas.

Primeiro ponto (ou Geek rules!)

Homem-Aranha 3 é uma apoteose geek. Imagina a Sapucaí cheia de nerds, pulando, dançando, com aqueles sorrisos bobocas, afastando as plumas dos olhos e ajeitando os óculos depois de cambalhotas e piruetas. E um boneco gigante do Homem-Aranha no carro-chefe. É isso. Em primeiro lugar, o filme é uma das maiores celebrações geeks que a cultura de massas já promoveu. E Peter Parker é o Humphrey Bogart nerd.

Segundo ponto (ou O que os geeks pensam dos emos?)

O que os geeks pensam dos emos? Taí um negócio que eu nunca tinha me perguntado. Aliás, será que alguém por acaso já se perguntou isso? Bom, o Sam Raimi sim. Ele, que se assumiu totalmente, tipo, "é isso mesmo, eu sou nerd, e daí?", e nos deu um filme de fã para fã. Coisa que a sequência X-Men, apesar de razoável, nunca vai ser. Bryan Singer filmou os mutantes de Stan Lee a partir de um ponto de vista alheio, fazendo um filme principalmente pra quem não lê quadrinhos. Diferente de Sam Raimi, a quem não se pode negar o mérito de haver transposto para a tela uma estética genuinamente comics, mas sem deixar de fazer um filme. Nesse ponto, Robert Rodriguez e Frank Miller, por favor, vejam se aprendem alguma coisa. Estamos, portanto, em um terreno que tem dono, estamos entre geeks, e é eles que tomam a palavra, e os nossos olhos se tornam os deles. Fala, então, geek!

Peter Parker entra em contato com aquele simbiota alienígena que desperta o lado mais obscuro de seu caráter. Presta atenção: desperta algo que estava lá. No começo do filme, antes de Venon e cia. aparecerem, Peter Parker já andava com o rei na barriga, até beijando a mulher do próximo, por mais que dissesse que aquilo não significava nada. Sei. Bom, tem uma hora que o nerd Peter Parker e o simbiota apertam as mãos e vão pra night. Pra mostrar que a personalidade do herói está alterada, entra o corte de cabelo emo. O geek vira emo, ou melhor, um emo como aos olhos do geek. E para os geeks, os emos são tudo o que de há mais obscuro neles, geeks. Mais, são a idéia que eles têm de si próprios se eles fossem garanhões. Olha essa! Para os geeks, uma versão galinha e conquistadora deles mesmos é um emo! Sam Raimi, cineasta geek, está dizendo: ó, se a gente fosse do mal, a gente seria emo! Pois é, já se vê que é um psicólogo de mão cheia esse Sam Raimi.

Terceiro ponto (ou Eu já vi isso antes)

Eu já vi isso antes, aliás, eu já vi isso antes o filme inteirinho. Mas fiquemos só no principal. Por subtópicos (é, isso mesmo!):

1. Eu já vi isso antes no Máscara. O Peter Parker do mal, ou Peter Parker emo, vai pra night, como eu disse. Chama a coitada da Gwen Stacy que, como todo o mundo no filme, tirando o Aranha, quase entrou na história, pra sair e fazer cena de ciúme pra cima da Mary Jane. O boteco 10 por 10 m aonde eles vão acaba virando um baita salão de dança pra dar espaço pra metamorfose do Peter Parker num Máscara recém-saído da puberdade. Não tem jeito, depois que os geeks viram o Jim Carrey, num terno amarelo, catar a Cameron Diaz dos velhos tempos, não tem como tirar da cabeça deles que o Máscara é o garanhão-mor.

2. Eu já vi isso antes em Anos Incríveis. Mary Jane-Winnie Cooper desconsolada, sobre o corpo de Harry Osborne-Paul Pfeiffer moribundo, Peter Parker-Kevin Arnold arrependido, e no fundo, o sol se pondo. A gente olha e acaba pensando: "Pois é, eles amadureceram, e da maneira mais difícil." Aí, começa a tocar "With a little help from my friends", e a gente canta junto "Do you neeeeeeed anybodyyyyyyyyy?", yeah, yeah...

Quarto ponto (ou Legal, mas e daí?)

Legal, mas e daí? Homem-de-Areia. Investiram pra caramba nele, o grosso da pirotecnia do filme está nele. É o Godzilla a ser vencido no final. E com um bom apelo dramático, originando belas metáforas visuais, tipo ele se desfazendo no vento e desaparecendo - dá mesmo a idéia de alguém que a sociedade já não reconhece como cidadão e, portanto, como indivíduo, e meu lugar não é mais aqui, etc. Bonito. Mas, bom, como no caso da Gwen Stacy, ele quase entrou na história. Se é que foi quase. Não. Foi pior. Ele nem entrou. Porque, se você bota na ponta do lápis, é o único que não contribuiu em nada para o desenvolvimento da história deste e dos filmes anteriores.

Por exemplo, precisavam do Harry Osborne, porque já tinham inventado de transformá-lo no sucessor do Duende. Tinham que levar o coitado pra algum lugar. Beleza. Só que o Homem-de-Areia não. Na verdade, o negócio de ele ser o cara que matou o tio do Peter tiveram que inventar aqui, nesse filme. A Gwen Stacy colocaram pra desestabilizar o relacionamento com a Mary Jane, o que é compreensível, tá dentro da trama principal da mudança e amadurecimento do caráter do herói. E o Eddie Brock Jr. também, que naturalmente assume o papel de antagonista depois que o Aranha se livra do traje emo. Quanto a Mary Jane, nem precisa falar, né? No entanto, queria só sublinhar que jamais uma mocinha apanhou tanto como ela, e de todo jeito, e até do herói. Se fosse depressiva, teria se jogado de algum prédio no Queens, que já é fora da jurisdição do herói, pra ser sem salvação.

Quinto e ufa! último ponto

140 minutos de filme. A família toda reunida. Tinha até o papagaio que precisava ser lembrado. Sam Raimi pensou:

"Bom, como enfiar todo o mundo dos quadrinhos que ainda não tinha ido pro cinema? Quer dizer, dos principais? (O Homem-de-Areia é dos principais? Ah, deixa pra lá...) Em 140 minutos? Vejamos. Já sei: apelemos pra aquele velho princípio do "acontece', e estamos conversados".

Como isso funciona? É simples. Peter e Mary Jane estão dando uns amassos na teia (?) e, de repente, cai um asteróide ou meteoro (geeks, me ajudem aqui) trazendo o simbiota emo alienígena. Bem na hora. Ah, acontece. O bandido, fugindo da polícia, pula uma cerca e despenca no meio de uma espécie de reator nuclear (?), com os cientistas prontos pra botar o negócio pra funcionar. Ah, acontece. O velhote que cuida do Harry, depois de ver o pai deste se transformar num Duende do mal (?), espera o próprio Harry assumir o lugar do pai como Duende do mal (?) e acabar com a cara desfigurada e cheio de amargura, pra, só no final do filme, na hora decisiva, contar pro Harry que o Homem-Aranha não era culpado da morte do Osborne pai, e isso pro Harry ir lá ajudar a salvar a Mary Jane. Ah, acontece.

E sabe o que é o genial disso tudo? Ainda teve tempo pra um monte de piadinhas (algumas muito inspiradas) e velho chato falando coisa que não tem nada a ver pro Peter Parker, no meio da rua.

Mas, minha gente, não me levem a mal, pois, apesar de tudo, achei um filme muito, muito divertiduxo, com cenas de ação fantásticas. Acima da média do cinema pipoca. E antes que vocês cuspam neste prato ou em qualquer outro que lhes ofereçam, por favor, eu peço, lembrem-se de Batman & Robin, lembrem-se de que houve algo como Batman & Robin, e agradeçam por este Homem-Aranha 3 ao talentoso Sam Raimi.

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