terça-feira, 1 de maio de 2007

Nossa geração

Nós não estamos nas ruas, militando por liberdade política e por justiça social. Não vivemos sob um regime ditatorial. O Estado é uma bagunça, o presidente é um sujeito bem panaca, mas temos liberdade de dizer que o Estado é uma bagunça e o presidente, um sujeito bem panaca.

Nós estamos em casa, ouvindo música e assistindo a filmes. Saímos pra ir ao cinema, temos uma namorada bacana e procuramos um emprego que pague bem. É isso.

Outrora, havia ritos de passagem à vida adulta. Matar javalis, a floresta; até a militância política e os enfrentamentos com policiais tinham essa função, de mostrar o lugar da gente no mundo e na vida da gente. Hoje, não.

Hoje, temos videoclipes; há uns anos, na MTV, mas agora, no YouTube. Eu me lembro da boa MTV, com os saudosíssimos Gastão Moreira, apresentando o Hits MTV, e Fábio Massari, apresentando o Lado B. Chamá-los VJs é pouco, eram modelos de jornalistas musicais. O genial e o erudito. Mas acabou. Agora, restaram patetas e emos.

A garotada grega ouvia a Odisséia e queria uma vida cheia de aventuras iguais às de Odisseu. Bem mais tarde, veio uma geração que assistia a Casablanca e reconhecia em Rick um herói verossímil e com ele se identificava. E, então, os videoclipes, com bandas tocando em quartos de pensão, debaixo da chuva, ao longo da escada de incêncio, no meio da rua, e é isso que queremos que seja a nossa vida: fazer parte dessa banda e viver aventuras malucas e banais com gente comum que mora no quarto ao lado.

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