domingo, 20 de maio de 2007

Os Melhores Filmes, Década de 90, Parte 2

E agora, abafando o atraso de um dia, finalmente para todos os fãs incondicionais desse blog e aos seus detratores também, aqui mando, com lágrimas no rosto e batidas fulgurantes no meu esquálido coração, os cinco melhores filmes da década de 90, do quinto melhor para o melhor de todos (importante lembrar: na MINHA opinião, mano progressista, e a minha opinião não é necessariamente a mesma dos outros dois camaradas. Deu pra entender agora?). Para vocês, cambada:

5- Jerry Maguire, A Grande Virada - (Jerry Maguire, 1996) - Diretor: Cameron Crowe; Elenco: Tom Cruise, Renee Zellweger, Cuba Gooding Jr.
Eis para vocês, o homem, o chato, a lenda, Thomas Cruise Mapother IV. Desde o indefectível Top Gun, segundo filme mais gay da história (Batman e Robin ainda imbatível), ele nos atormenta com o seu método junkie food de atuação. Na época vindo de dois sucessos estrondosos de bilheteria, A Firma e Entrevista com o Vampiro, Cruise era a maior estrela de Hollywood. Quando aceitou fazer esse filme de menores pretensões, muitos estranharam a decisão. O diretor, Cameron Crowe, tentava desesperadamente mostrar que o sucesso que conseguiu com o seu primeiro filme, Digam o Que Quiserem, não tinha sido obra do acaso depois dos resultados medianos que obteve com o seu segundo filme, Singles. O elenco era formado por ilustríssimos desconhecidos (Winona Ryder chegou a testar para papel que foi de Renee Zellweger, mas foi vetada por parecer ser irmã de Tom Cruise, e não interesse amoroso). Crowe tirou atuações de rara entrega dos seus atores, especialmente de Cuba Gooding Jr., conseguiu tirar um bom trabalho do muitas vezes forçado Cruise e fez um filme pulsante, extraindo beleza e lirismo da garra e do brilho de pessoas comuns passando por momentos de decisão em suas vidas. Parece pouco, mas simplicidade e sinceridade podem proporcionar momentos preciosos para aqueles que quiserem sentir algo ao invés de passar 120 minutos olhando para o alto.

4- Os Doze Macacos - ( Twelve Monkeys, 1995) - Diretor: Terry Gilliam; Elenco: Bruce Willis, Brad Pitt, Madeleine Stowe
Dos membros do Monthy Phyton, Terry Gilliam era o que menos atuava, limitando-se a fazer personagens meramente periféricos nos filmes da trupe. Ele, que era o único americano da turma e desenhista de origem, sempre preferiu atuar no processo de criação, dirigindo junto com Terry Jones o Cálice Sagrado e o Sentido da Vida. Por isso, depois que os Phytons se
separaram, acabou virando um diretor de raro talento, empregando técnicas visuais e de cinematografia que ficaram tão marcantes que viraram marcas registradas dele, como a câmera inclinada e a trilha monocórdica e evitando arranjos orquestrais e as temáticas futuristas. Os Doze Macacos não é o seu melhor filme (a honra vai para o Brazil, de 1986), mas é um exemplar exercício de cinema, um pesadelo científico-futurista com um roteiro coeso e inteligente, atuações firmes de Bruce Willis e Brad Pitt, driblando com categoria as canastrices habituais dos dois atores, e o apuro visual de Gillam na sua melhor forma, agindo como uma espécie de Caravaggio pós-apócalíptico. Um grande momento na bela carreira de Gilliam.

3 - The Commitments, Loucos Pela Fama - (The Commitments, 1991) - Diretor: Alan Parker ; Elenco: Robert Arkins, Michael Aherne, Angeline Ball
Nenhum filme dos anos 90, eu disse NENHUM, proporcionou tanta diversão e despojamento quanto Commitments - Loucos pela Fama. Com um elenco formado por músicos profissionais e com pouca ou nenhuma experiência no cinema, o diretor Alan Parker acabou podendo implementar as suas idéias com mais liberdade (ele dirigiu o fime The Wall, inspirado no disco do Pink Floyd, e nunca se recuperou do trauma de ter que trabalhar com o egocêntrico Roger Waters), deu a segurança necessária para os seus atores, e trabalhando com avidez em cima do bom livro de Roddy Doyle, construiu essa inspirada fábula de um jovem com aspirações de manager tentando montar uma banda de Soul na suburbana e miserável Dublin do começo dos anos 90. Hilário do começo ao fim e com números musicais sensacionais, o filme reviveu a carreira do Wilson Pickett, lançou a moda das bandas de soul de publicitários (o porque dos publicitários terem sido eleitos como rótulos, eu não tenho a menor idéia) e mostrou ao mundo todo o charme do humor irlandês. Esperamos ansiosamente até hoje que lancem aqui nesse fim de mundo o DVD. É duro ver nas lojas edições caprichadas de todas as bombas "estreladas" pelo Adam Sandler e pelo Martin Lawrence e saber que o Commitments nem previsão de lançamento tem. VAMOS MEXER O RABO, DISTRIBUIDORAS DO INFERNO!

2- Pulp Fiction, Tempo de Violência - (Pulp Fiction, 1994) - Diretor: Quentin Tarantino; Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis
Isso não foi um filme. Foi uma hecatombe nuclear. Se você não tivesse assistido Pulp Fiction, você não era um cara legal. Um filme de baixo orçamento que ousou peitar Forrest Gump, infinitamente mais caro, nas premiações da época. Colocou o cinema underground americano no mapa, deu voz a diversos diretores talentosos que não tinham chance de fazer os filmes que queriam, ressucitou John Travolta, lançou o mito Samuel L. Jackson e, principalmente, colocou Quentin Tarantino, ex-vendedor de locadora e diretor do muito elogiado e pouco visto Cães de Aluguel, no topo do cinema, aonde está até hoje. Quando ele elogia algum filme obscuro, os produtores usam o elogio nos cartazes de divulgação dos filmes. Se o Tarantino falou, então é bom, reza a cartilha. Mas, passados 13 anos, toda a euforia, a pergunta que fica é: o filme é tudo isso mesmo? Ou era apenas o filme certo no momento certo? Analisando isoladamente, sem a pressão de ter que determinar se o status que é dado ao filme é válido, Pulp Fiction é um glorioso trabalho de celebração da cultura pop, com um roteiro repleto de diálogos icônicos e sensacionais, personagens marcantes e extremamente bem delineados, elegantes jogos de câmera, narrativa não-linear que, embora não fosse inédita nem fizesse muita diferença na história como um todo, acabou se revelando um diferencial interessantíssímo, além de isolar eficientemente as histórias umas das outras, fortalecendo-as e ressaltando ainda mais as ligações entre elas. E a trilha sonora, que até hoje é lembrada como um dos casamentos mais perfeitos entre um filme e as músicas que nele tocam. Pulp Fiction não foi um acidente, foi a tão esperada volta do cinema autoral, perdido no meio das naves de Star Wars e das fantasias dos Spielbergs da vida.

1- Clube da Luta - (Fight Club, 1999) - Diretor: David Fincher; Elenco: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham-Carter
Poucos filmes foram tão incompreendidos na história quanto esse Clube da Luta. Quando saiu, acusaram o filme de David Fincher baseado no livro de Chuck Palahniuk de ser subversivo além de tudo o que podia ser aceitavel na moralista sociedade americana, fascista ao extremo, de mal uso da violência, enfim, encheram tanto o saco que o filme fracassou nas bilheterias. Para piorar, aqui no Brasil, era uma sessão do filme que acontecia quando um maluco entrou armado numa sala de um Shopping de bacanas na Zona Sul de Sampa e matou a tiros cinco pessoas. Pronto, era o que faltava para enterrar o filme de vez, apesar de tudo ter sido uma trágica coincidência. Zica demais para um filme só. Depois de tudo isso, anos se passaram até que finalmente começasse a se dar o valor merecido ao filme, um roteiro primoroso filmado como absurda excelência por Fincher, um ótimo diretor que emula a obsessividade e o preciosismo de sua principal influência, Kubrick, mas que nem sempre consegue fazer filmes bons por não ser o autor dos roteiros que filma e depender sempre de arrumar bons escritores. Nesse caso, ele tirou a sorte grande com o excepcional trabalho de adaptação feito por Jim Uhls e pôde deitar e rolar. Edward Norton, como o narrador (o personagem nunca é nomeado) perdedor que conhece num vôo um maluco anarquista, interpretado com surpreendente brilhantismo por Brad Pitt, e monta junto com ele um Clube no qual homens se reunem para simplesmente darem porrada uns nos outros. Retrato cínico da Geração X agora fazendo parte do mundo corporativo e perdendo-se num sistema que tira dos homens toda a sua individualidade, o filme inteligentemente dá ao espectador a impressão, em determinado momento, de que os personagens teriam saído desse cenário quando, na verdade, estão embarcando em algo tão frustrante e descaracterizante quanto. Ao contrário de tudo o que se disse, a única verdade do filme é: tudo nessa vida pode ser trocado pelo amor de uma garota. Ou não.




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