Se um dia eu te escrever uma cartinha, a você mesmo, e vier a citar Isócrates, Demóstenes, Cícero, não o farei por me alinhar ideologicamente com nenhum deles. Antes, o farei, por serem nomes que remetem à arte retórica, com ou sem conteúdo.
Se um dia eu te escrever uma cartinha em que diga que ser professor, no Brasil, equivale a se alistar em alguma missão de ajuda humanitária na África, de combate à fome, não o farei por achar que professor ganha mal; não, nada disso. Mas porque o sistema educacional público brasileiro é uma causa perdida quase como a erradicação da fome no mundo.
Se um dia eu te escrever uma cartinha, e você for de um partido, digamos o PSDB, e você estiver a serviço do PSDB, e eu, nessa cartinha, discordar de você e do PSDB, não o farei porque estou do lado adversário, porque sou, por exemplo, petista. Não, mas o farei porque discordo do PSDB e, pra falar a verdade, acho o PT um PSDB mais estabanado.
Enfim, se um dia eu te escrever uma cartinha, no fundo, no fundo, a minha intenção será só tornar você meu amigo, porque eu acho que todo o mundo é mó legal, e que a gente pode superar as diferenças, fazer churrasco juntos e emprestar havaianas um pro outro. E saiba que, no fundo, no fundo, eu sou só um bufão.
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